quarta-feira, 30 de setembro de 2015

RUMO AOS ALPES - ANNECY E CHAMBÉRY

Dedico esta postagem a meus amigos alpinos - do Savoie, Zélia e Alain 
O ROTEIRO ENTRE BORDEAUX E ANNECY



Dia 20/05 marcou nossa despedida da Região de Bordeaux. Só cruzar a rua em diagonal já estávamos na Estação St Jean. Uma facilidade prevista tanto para a ida como para a volta. Não houve dor de cabeça com transporte de malas, chamar táxi ou Uber. Tomamos o velho e bom TGV.




 Aboletamo-nos no segundo andar, onde a paisagem fica mais visível. E dá-lhe escrever para não perder as lembranças do último dia. Passamos por cidades e campos, tudo arrumadinho como se fosse artificial. A medida que o trem avançava a paisagem rural ia se diversificando, aparecendo plantações de grãos e frutíferas (pêssegos). Casas nas encostas e plantações na parte baixa e plana.

Toulouse me lembrou uma paisagem londrina, já no Languedoc-Roussillon tudo era beige, ao largo de Carcassone vimos as muralhas e o seu castelo-fortaleza.



Lindo mesmo. Fica anotado para uma ida futura. Resolvemos almoçar no trem, fomos pegar as refeições no carro restaurante. Mas era horrível. Aconselho levar um farnel porque não dá.....
Depois o trem parou em Montpellier Saint Roch. Muito ensolarado,vista do mar Mediterrâneo e das barreira de pedras. Mais adiante Nimes, com sua bela igreja de altas torres. Até  chegar a Lyon onde faríamos baldeação. Esperamos um pouco e tomamos outro trem rumo ao nosso destino final, a cidade de Annecy nos Alpes.




Once upon a time a piece of paradise fall down in the earth among France, Italy and Switzerland...(Assim deveria começar esta postagem). E naquele local se instalou um ducado com o nome da família reinante: Savoie. Desde então e até que fosse dividido e anexadas suas partes à França e à Itália (por volta de 1860) este pedaço do paraíso viveu seu conto particular de fadas. Hoje continua a encantar a todos que o visitam, tendo um sem número de atividades recreativas em qualquer das estações do ano. Não é sem razão que muitas das histórias infantis que povoaram o mundo e ainda encantam, surgiram lá. Vamos falar de Annecy e Chamberry, duas cidades situadas nos Alpes franceses - Rhône, encravada entre montanhas, com lagos e florestas, castelos e igrejas medievais, prisões e casas lindas entre ruas sinuosas e cheias de detalhes. 
 ANNECY
Chegamos a Annecy num dia carrancudo. A informação que tínhamos era de que nosso hotel ficava a 5 minutos a pé, desde a Gare. Então nos aventuramos com o GPS do Iphone e tudo deu certo. As ruas estavam umedecidas pela recente chuva e fazia um frio razoável. O hotel pré-reservado era o Les Privilogdes, que fica na Rue Royale (rua de comércio com lojas boutiques, restaurantes, bares,etc) junto ao centro da cidade medieval. Na verdade ficamos decepcionados com a fachada e com o apartamento. Logo na entrada um amontoado de pedras brancas parecendo entulhos,  tinham a pretensão de ser obra paisagística. O interior do prédio era claro e moderno. No apartamento (flat) tudo era enorme, cama muito alta, impossível se sentar para calçar uma meia. A mesa era alta com cadeiras altas. Coisa pra gigante. O chuveiro era de água fraca. Odeio isto. Desta vez não acertamos, embora tenhamos procurado escolher a dedo as acomodações uma vez que passaríamos lá, 8 dias (7 pernoites). Mas a propaganda foi enganosa e disso sempre se tira uma lição. Na recepção algumas dificuldades de comunicação porque as recepcionistas ficavam aboletadas num mezzanino longe, sempre conectadas no computador. Até os mapas da cidade elas não tinham para fornecer para o hóspede. Ou seja .... só não desistimos porque as sete noites já estavam pagas e haveria multa com a desistência. Ainda o desgaste de procurar outro hotel. Por comodismo ..ficamos.

Sem ter o charme que esperávamos o hotel oferecia outras vantagens, tais como a localização, o serviço de lavanderia e o café da manhã. Higiene e qualidade na pequena refeição. 

Logo que acomodamos as bagagens saímos pela cidade.
arcadas que protegem o pedestre da chuva


A chuva voltou, mas Annecy tem uma característica que lhe dá um charme especial e sobretudo praticidade para quem anda pelas suas ruas com chuva ou neve: os corredores são cobertos. Você fica protegido sob as arcadas. Ali mesmo descobrimos um simpático restaurante, para tentar esquecer o "almoço gourmet", do trem. Pedimos pizza, e embora a garçonete falasse que era individual, a famosa iguaria italiana era enorme, tamanho família. Vou contar o sabor da minha para terem ideia do porquê da escolha: queijo de cabra, mel, nozes e azeitonas pretas (hummmm). Toninho escolheu a de rúcula que também estava boa e fizemos um mix

Naquele friozinho com garoa, a pizza com o vinho caiu muito bem. Faço questão de contar o episódio da água: pedimos uma garrafa de água mineral para levar para o hotel. A atendente falou que o vasilhame era de vidro e portanto retornável. Aceitamos e ela nos entregou a garrafa sem anotar sequer, o nosso nome. Isto pra mim é fantástico...lugar em que ainda existe confiança nas pessoas. Princípio que no Brasil está esquecido faz tempo. Sem querer fazer comparações.

Ainda fomos caminhar e logo saímos diante do lago. O dia estava claro, mas não havia ninguém nas imediações. Andamos um pouco beirando as águas e acabamos nos desestimulando de prosseguir o  passeio ao encontrar um grupo de homens consumindo drogas, num parquinho infantil. Um paradoxo com a situação anteriormente relatada. Bem, de todo modo a vista é belíssima,com os Alpes ao fundo e os barquinhos balançando ao marulho das ondas formadas pelo vento. 

Hora de descansar. O dia foi longo. Mas ainda passamos pela Mairie (Prefeitura), um prédio austero no comecinho do Lago.




Dia 21/05 levantamos cedo. Avisei da minha chegada para a  minha amiga Zélia, colega de escola (desde o primário até o ensino médio e companheira das épocas de vestibular), que reside na vizinha Chambéry. 
Depois do petit-dejeuner saímos sem lenço nem documento para o coração da cidade medieval. A sua principal atração  é o antigo presídio, situado numa ilha do estreito riozinho que corta a cidade e desagua no lago.



O pequeno castelo data do século XII e é  construído em pedra.
As casas coloridas em tons pastéis, na vizinhança,  se apertam, debruçadas sobre o estreito rio e formam um conjunto maravilhoso. Dos peitorais das janelas pendem flores variadas que se projetam sobre a estreita rua marginal. O borbulho das águas límpidas do Rio Thiou batendo nas pedras do fundo,  enche de vida o cenário. 



Enquanto almoçávamos veio a mensagem, pelo whatsapp que nossos amigos já estavam a caminho do hotel. Chegariam em uma hora. Nos apressamos e fomos aguardá-los. Uma emoção encontrar amigos morando assim tão longe (embora já nos tivéssemos encontrado no ano anterior, foi uma enorme satisfação). 




RUMO ÀS MONTANHAS - LE REVARD

 O simpático casal (ele francês de Paris, mas morando há muito nessa região) nos levou sabem aonde? Para as montanhas, aquelas escarpas que víamos do outro lado do Lago. Subimos de carro o Monte Le Revard, situado a 12 km de Annecy e 28 de Chamberry. A montanha em questão pertence ao Maciço de Bauges e tem uma estação de esportes de inverno no seu topo.
A estrada sinuosa serpenteava montanha acima. Fomos passando por trechos em que as árvores abraçavam a estrada e a fechavam formando um corredor verde. A paisagem bucólica incluía casas de fazenda típicas, com vaquinhas vermelhas. 



Também havia criatório de cabras e veados. Não resistimos e paramos para ver. Ao chegar ao topo estacionamos. Tudo amplo e além do estacionamento ainda tinha mirantes e área livre para se apreciar a natureza, além de um Resort de esportes de inverno. 



Como não era temporada, os teleféricos estavam parados e  balançavam com os fortes  ventos que sopravam. A temperatura era de 6 graus mas a sensação térmica era inferior a zero. Mesmo nosso amigo francês reclamava da temperatura de fim de primavera. Mas a visão compensava. Era estonteante. Via-se o famoso Lac Le Bourget (em Aix Les Bains) e ao longe o nevado pico do Mont Blanc. 
Os pinheiros ainda estavam brancos de neve, mas as rajadas de vento de vez em quando derrubavam os flocos, o que conferia ainda mais beleza à paisagem. Amo verdadeiramente lugares como esse.


Le Revard - Haute Savoie

 Manchas de neve na montanha e próximo a poças de água indicavam que este show muito particular era só pra nós. Os próximos visitantes talvez não pudessem mais apreciá-las. O gelo estava derretendo. Junto ao teleférico
Teleférico na pista de esqui das montanhas de Semnoz


e na beira do abismo ainda passamos por uma experiência inimaginável. Uma passarela com piso de vidro se projetava por sobre o abismo e nós ao pisarmos ali tínhamos a sensação de estarmos soltos no ar. Pura adrenalina.


Piso de vidro sobre o despenhadeiro

De lá seguimos pelos Villages, pequeninas e lindas vilas rurais  até a vizinha Chambéry, onde moram nossos amigos. Muito orgulhosos de sua história.  





UM POUCO SOBRE CHAMBÉRY

Não me surpreendeu a beleza do lugar porque ali tudo é mágico, mas a cidade tem além da natureza uma linda e antiga história para contar. 
Modernidade e antiguidade convivem lado a lado para o bem estar e conforto dos cidadãos.



Como Chambery foi a capital do Ducado, tem mais prédios e igrejas históricos que entram no roteiro turístico, do que Annecy. Passamos logo na entrada da cidade pela Rotonda Ferroviária, toda em ferro articulado como a torre Eiffel. Depois já no centro pudemos apreciar a famosa "Fonte dos Elefantes", em restauração. São quatro metades de elefantes, tendo no centro uma coluna e acima dela a estátua do conterrâneo  benfeitor da comunidade, o General de Boigne. A coluna é feita em forma de palmeira que lembra as incursões do general pelas Índias. O endereço é Place des Elephants. Logo na entrada da Vieille Ville (cidade antiga) pode-se apreciar conjuntos de prédios históricos sendo que muitos dos quais datam dos séculos XV e XVI. Dentre eles vimos o Chateau des Ducs du Savoie.


Ao fundo Torre do Castelo dos Duques de Savóia

Um conjunto de edificações   construído em várias etapas e portanto que agregou vários estilos. Possui três torres e contém um rico mobiliário que pertenceu aos seus nobres proprietários. Hoje tem funções administrativa, nele estando instalada  a Prefeitura e o Conselho Departamental.
Castelo dos Duques de Savóia


 No seu interior há uma capela, a Saint-Chapelle, construída em estilo gótico flamboyant, que além de sua beleza tem como atrativo maior os Carrilhões - GRAND CARILLON- (70 sinos) que tocam aos sábados de manhã.  (Place du Chateau).
A edificação mais antiga é a Igreja Saint-Pierre-de Lémenc, do século XV. Sua cripta construída sobre ruínas do antigo povoado calcula-se que date dos séculos IX a XI. A Catedral de St François de Salles tem um belo acervo litúrgico que data dos séculos XII a XIX e também a maior coleção de trompe L'oeil da Europa, que está exposta à visitação. Local : Place Metropole.
Catedral  Saint Francois de Sales - Chambèry

Junto a Igreja encontra-se o Musée Savoisien, instalado num antigo mosteiro,também uma das edificações mais antigas da Vila. Sua exposição é de coleções arqueológicas, etnográficas e históricas sobre a Savóia. Se tiver tempo visite o Museu de Belas Artes com pinturas italianas dos séculos XIV a XVIII, e a Galerie Eurêka, com seu incrível espaço montanha mostrando aquela região desde a sua formação (foco na geologia). 
Fora da área urbana a natureza foi pródiga com Chamberry. Existem cascatas e cachoeiras nas montanhas próximas que devem ser visitadas ,se você for amante da vida ao ar livre. Exemplificamos com a Cascade de la Doria e Cascade de St Cassin. Um passeio que fizemos fora do núcleo urbano foi ao MUSEU DES CHARMETTES, nada mais nada menos que a casa do filósofo Jean Jacques Rousseau.
Fica no Chemin des Charmettes, 890. 


Musée Des Charmettes - casa de JJ Rousseau

Sua horta e jardim são cheios de plantas medicinais. Até a roseira que perfuma e embeleza tem suas propriedades preventivas e curativas. A vista dos Alpes e o verde na propriedade e no bairro indicam que ali era o lugar propício para se filosofar a vontade.... Quanta inspiração para os exercícios intelectuais.
Ao chegarmos não havia ninguém na casa, mas os portões estavam escancarados. Entramos, percorremos todo o quintal e o jardim, mas confesso que tive uma sensação de nostalgia, ao ver as janelas fechadas. 


Casa de Rousseau  em Chambéry

Aqui era o quarto de Rousseu, comentou Alain, mas as janelas cerradas falavam de ausência, de vazio. Aí eu filosofo: a vida ... o que é a vida? tão fugaz.. Por que um gênio como Rousseau se apagou, como uma frágil vela ao vento?.. Seguramente aquela casa tão cheia de alegria, agora guarda a calma dos mortos. Vive nas e das lembranças. Triste, melancólico. Mas este sentimento foi passageiro,porque esse foi um dia pra lá de agradável, além da presença dos amigos o local merece uma segunda chance, já que vimos tudo pelo seu exterior. 


VOLTANDO PARA ANNECY

Annecy na sexta-feira - Todos os ímãs levam ao centro medieval. Compramos o passeio de barco pelo lago. Há muitas opções: passeio com almoço, sem almoço, aluguéis individuais, em grupos fechados, roteiros de uma hora ou mais, locais variados. Querendo consultar sites navegue ... pelos seguintes: www.arcenciel-annecy.com ou ainda www.annecy-croisieres.com. Vende-se bilhetes ali mesmo no cais. As bilheterias são bem visíveis. Compramos para  11,30, uma hora, sem almoço. Como ainda tínhamos bastante tempo fomos conhecer vários pontos históricos da cidade e também "vagabundear",  simplesmente, por aquelas ruelas cheias de charme. Primeiro a Igreja de São Francisco de Sales. Simples, sóbria e antiga. 


O seu maior atrativo é o próprio prédio. Fica diante da ilhota do presídio. Depois caminhamos pela paralela ao Cais D'Eveche,  e nos deparamos com uma colorida feira livre (Rue Perriere).  



Um achado. Pilhas de queijos, embutidos, doces regionais os mais desconhecidos, recheados com frutas secas, vermelhas, café ou chocolate.


Um visual bonito mas a impressão de ser muito doce. As alcachofras eram enormes, os tomates com os cabinhos que mais pareciam enfeites.



 Oba! Época das cerejas e lá estão elas suculentas e vermelhas nos hipnotizando. Também época de morangos, framboesas e abricots amarelinhos.




 Uma festa de cores e sabores. No setor de carnes eram oferecidos patos, coelhos e  ovos, tudo como as feiras convencionais. Compramos mel branco, denso, delicioso e balas de mel. 


Et voilá: les fromages


Chegada a  hora fomos pegar o barco. Soprava um vento gélido. Mas não passamos frio porque a embarcação era toda envidraçado e saímos da cobertura externa para o seu interior onde apreciamos aquela paisagem que eles mesmos chamam de paradis. Ficamos ali dentro protegidos dos respingos da água contra o casco e da garoa com ventos cortantes.



 O que vimos? Os bairros elegantes do outro lado do lago, alguns castelos em meio ao verde da vegetação e 


Chateau du lac - Duingt

as montanhas escarpadas onde havíamos estado no dia anterior. 



Depois do passeio fomos almoçar e ficamos curiosos com um prato chamado Tartiflette, que era oferecido como opcional à raclette e ao fondue. Trata-se de um gratinado, com molho de queijos borbochon (produzido nas fazendas locais). Vem borbulhando, com uma casquinha de queijo crocante por cima. O seu conteúdo é de batatas e fatias fininhas de bacon. Saborosíssimo. Não sei como minha cidade montanhosa e fria ainda não lançou o prato. Ia fazer sucesso. O nosso teve um plus, pois foi preparado pelo famoso restaurateur Jean Michel Le Pessot (conforme plaquinha no exterior do restaurante Le Pichet - Rue Perriere). O vinho para acompanhar foi do Rhône, mesmo. 



Após o almoço percorremos rua a rua da centro velho, sempre descobrindo um  balcão romântico, uma ponte, um vaso de flores, uma placa antiga, um recanto em pedras, uma torre.






 As duas horas, quando abriu o Museu de  Arquitetura de Annecy, nos dirigimos para lá. O local é conhecido como Palais de L'Isle. Construído em 1132 como residência do Lord de Annecy, passou a sede do Condado de Geneve, Corte de Justiça, Casa da Moeda e presídio. 




Não há muito o que ver, a não ser masmorras e a cozinha. Em umas salas a exposição da história local. Vale a pena conhecer suas dependências porque o prédio icônico é a grande referência de Annecy. Lindo,  em pedra e sobretudo cheio de história, desde o século XII, imaginem.

 Lá dentro ainda há desenhos e escritos feitos pelos prisioneiros, nas  masmorras, além da cozinha e refeitório.



 No térreo,  separada do prédio principal (na ponta do castelo) há uma sala de audio e video para palestras e apresentações.



Bem perto dali subimos uma rampa que liga o centro ao Castelo. Este também funciona como museu, uma parte expõe  obras fixas do seu acervo e outra de obras itinerantes, passageiras e  contemporâneas.



 Adorei as imagens e peças do século XII, imaginando os que serviram de modelo. Havia móveis alpinos, peças várias como berços , quartos completos, camas e baús. O Castelo em si é uma imponente obra com bela vista para o Lago, as montanhas e a cidade.



 Também um pouco de história para contar, nos seus salões, grandes portas e janelas, escadas de pedra, poços, detalhes que atraem. 



Andamos por sacadas e jardins e depois saímos descendo vagarosamente as ladeiras da Côte S. Maurizio. De repente estávamos diante da Gare e de lá fomos para o hotel.



Nos dias subsequentes fomos a Grenoble e Chamonix, além de Genéve, sobre os quais falaremos em outra postagem.

DOIS DIAS DEPOIS....

Aproveitamos para descansar bastante, depois de dois dias de andanças. Saimos caminhando após o café da manhã e começamos a encontrar mais pessoas que o normal. 



O dia estava ensolarado e as pessoas usavam roupas bem informais e alguns bermuda. E foram aumentando as levas de pessoas , eram pais com filhos de patinete, bicicleta, skate. Desconfiamos e depois tivemos certeza que era  mais um dia feriado na França. Ah! gostam bem mais que nós de um descanso entre um dia de trabalho e outro. E nós que levamos a fama. Quando chegamos ao parque ficamos espantados com a quantidade de pessoas,uma centena de quadras de vôlei, um agito, uma barulheira que jamais imaginei naquele recanto tão sossegado entre a França e a Suíça. Mas não só de vôlei estava o parque lotado, também de esportes aquáticos, skate, bicicletas, etc.. 



Muitas pessoas tomavam sol deitadas na grama (lembrava as tardes raras de sol de Londres). Alguns faziam picnics. O que é um hábito difundido por lá. Demos uma volta de trenzinho por dentro do Parque e nas margens do Lago.




 Depois escolhemos para almoçar um daqueles restaurantes que tem vista para a prisão e o Rio.  Eram 4 da tarde e de repente o tempo virou, escureceu, choveu, ventou. Tivemos que trocar de lugar para uma parte mais protegida e com aquecimento ligado.






A comida estava deliciosa, uma leve e delicada massa de raviolis bem pequenos, com molho Roquefort bem caprichado. Quando saimos estava amenizando a chuva e ainda deu tempo para saborear aqueles famosos sorvetes dos mais variados sabores: pistache, chocolate, marron glacé, canelés, baileys, etc.. típicos da região. São chamados de glaces ou sorbets e se formam filas infindáveis para comprá-los. Mas vai rápido. A nossa sorveteria ficava ali mesmo, perto de tudo, na Rue Perriere: O Palais des Glaces.


 Eu recomendo. Fomos para o hotel organizar nossas coisas. O passeio de amanhã é pra Genebra. Nos vemos então na Suíça! A bientôt! 



sexta-feira, 18 de setembro de 2015

MEDOC

O pacote que escolhemos para a imersao no Medoc (que abrange os vilarejos e as fazendas das comunas de Pauillac, Margaux, St Julien e St Stephen) foi de um dia. A visita seria a 3 chateaux grand crus, escolhidos pela empresa prestadora do serviço. A região, saliente-se, é a menina dos olhos de Bordeaux, pois produz os melhores vinhos da região, de acordo com a classificação oficial de 1885. 
Acordamos cedo, fizemos aquele fantástico café matinal com canellés(inclusive), e fomos para a Place des Quinconces. A calçada diante do Oficce de Tourisme estava lotada, havia vários grupos. E isto começou a me deixar preocupada, porque os programas de massa costumam ser superficiais e aborrecidos. Mas para espanto nosso apareceu um senhor com uma prancheta,  perguntou pelo nosso sobrenome ( M. e Dame Gonzalez) e pediu para que nós o acompanhássemos. Havia outras 4 pessoas esperando. Após as apresentações iniciais tomamos uma Van. Foi um alívio. O guia falava francês e inglês e era muito simpático. Isto faz a diferença. Os turistas que estavam conosco eram duas moças da Austrália e um casal do Canadá, igualmente cordiais. 
O dia estava ensolarado. Não demorou muito para encontrarmos as primeiras plantações com seus casarões. No caminho com destino a Pauillac passamos no Chateau Margaux. 


Chateau Margaux


Linda aléia até a entrada do casarão. Tiramos fotos apenas. O magnífico Margaux não estava incluído na visita. Mais adiante, já em St Estèphe   paramos para uma aula no meio da vinha, no belo e premiado Chateau Cos D'Estournel. 


Descemos para caminhar através do alinhamento da plantação.O agrônomo até aproveitou para examinar o solo, os pés de uva e outros detalhes que passam despercebidos para um leigo.



Também aproveitamos para tirar fotos na frente do Castelo, que tem traços da arquitetura indiana. Mas foi apenas um refresco. As visitas às caves e outras vinhas, em pormenor, viriam depois. Uma espiada no Pichon-Longueville era imperdível porque com suas torres, remexe nos contos da infância, de princesas e bruxas, reis e rainhas. 
Chateau Pichon Longueville
Mais à frente encontramos o Chateau Lafite-Rotschield. Sem conhecê-los, mesmo que assim, de relance,  o  passeio não seria completo.

Chateau Lafite- Rotschield, ao fundo


Bem já passava do tempo de visitar a vinícola programada para Pauillac: HAUT BAGES LIBERAL  - www.hautbagesliberal.com situada no Chemim de Balogues, perto do rio Gironde. Ah O Gironde, mereceu uma parada para apreciar seu lado rural.


 A vínícola, com vinhos de grande prestígio está entre as mais bem cotadas da região, tendo constado da classificação de 1885, com Vinhos Second Grand Cru. Logo que chegamos fomos recepcionados já no lado de fora pela enóloga que nos mostrou as vinhas e falou das fases do cultivo, do controle do crescimento da planta através da poda e do formato e da disposição de cada pé e do conjunto (que estão dispostos em fileiras e não em parreiras suspensas), do solo, do microclima e da insolação. Em rápidas pinceladas, o tamanho, formato da vinha e a enfileiramento são para reduzir a produção e concentrar todas as qualidades em poucos frutos (acúcares, líquido, crescimento, coloração etc..). Alinhadas,  e não tendo como suporte as parreira convencionais por outro lado, facilita o  manejo, inclusive no que diz respeito a controle de doenças e pragas. Sobre o solo ela informou que ali é predominantemente calcáreo, pedregoso e arenoso. A uva quanto melhor mais tem que sofrer, buscar seus nutrientes no fundo da terra inóspita (é o que sempre ouvimos e que foi confirmado). A grande quantidade de pedregulhos e a sua constituição com bastante mica conservam o calor sobre a planta por mais tempo. Isto porque em se considerando que o local tem noites frias, o calor é muito importante para o crescimento dos frutos, principalmente em se estendendo até a noite. O clima em geral também é fundamental, nada de excesso de chuvas. Águas em períodos intermitentes são o ideal. É preciso que os dias sejam mais longos e não obrigatoriamente ensolarados, como característico neste região.  A guia falou ligeiramente sobre a vindima, modo de separar cachos mais maduros de outros no ponto. A colheita é manual, revelando um processo artesanal cuidadoso, que garante um produto de excelência. 





As cepas que mais se adaptaram à região e que são as mais usadas na elaboração de vinhos no Medoc ( incluso esse Chateau) são: cabernet sauvignon, cabernet franc, merlot, petit verdot e malbec.
Encerrada a primeira etapa da visita e já na parte interna, fomos apresentados aos enormes barris de inox, e introduzidos no processo de vinificação. 



Foi explicado que logo depois da colheita passa-se à operação "desengaço" que é a retirada dos frutos do cacho e a separação do esqueleto que, se fosse juntado ao suco iria conferir a este um gosto amargoso e indesejado. O debulhamento é feito por máquinas desengaçadoras. A prensagem para extrair o precioso líquido é rápida e o produto é levado para as cubas. Ali permanecendo por dias e até no máximo um mês. Foram mostradas as cubas e a enóloga explicou sobre o processo de fermentação, que ocorre com o rompimento dos bagos e o seu contato com a casca, o ar e com os açucares. A dos tintos se faz com a casca, já que sua cor e textura produzem diversas influências no sabor do produto final. O vinho branco ,diferentemente, é prensado com a casca, mas esta é separada antes da fermentação, para onde só é levado o suco. Portanto uma uva tinta pode fornecer um vinho branco, tudo vai depender da orientação na hora de fermentar. As torneirinhas abaixo dos tonéis vão ser responsáveis pela próxima etapa. Quando abertas retira-se o sumo mais fino que é colocado numa cuba. O mais grosso vai para uma segunda cuba. Aí ocorre uma nova fermentação. Por fim, como  o sumo ainda sai turvo dessa última operação é preciso extrair a borra acumulada, para que esses resíduos não produzam mais uma fermentação que seria danosa ao produto. Esta etapa é chamada de clareamento, que nada mais é que se fazer a limpeza do líquido. Bate-se claras de ovo em neve e despeja-se no barril (são seis claras para cada barril de madeira). A sujeira vai aderir às claras ficando mais fácil para retirá-la. É um método histórico e lendário até, eu diria, mas ainda utilizado, por ser eficaz e porque vai excluir tratamento químico ou mesmo físico (centrifugação)que prejudicam a qualidade do vinho. Como curiosidade eu acrescento a informação de que a colagem (este tipo de clareamento) permitiu a criação de doces, sendo os mais famosos os canelés, para aproveitar a gema que sobrava. 


As cubas acima, de aço inoxidável tem se sobrepujado a outros materiais porque são mais fáceis para higienizar. 
Cave do Chateau Haute Bages Liberal


Depois das cubas eles são transferidos para as barricas de carvalho. O vinho ainda passa por aeração e pela sulfitagem, que é o acréscimo de enxofre, que vai proteger o vinho de doenças. Uma operação regulamentada em lei e que consiste na inclusão deste elemento que vai propiciar a famosa dor de cabeça aos consumidores. Mas não há outro jeito. O produto químico em questão tem qualidades antioxidantes e bactericidas e precisa portanto integrar a composição do precioso líquido. Nos barris de carvalho o vinho vai ganhar aromas e sabores, vai arredondar, amaciar os taninos (aquela adstringência sentida na boca ao tomar a bebida). 


Bem, há muito mais o que se falar, que poderia abranger o engarrafamento e as garrafas, rolha, tonéis de carvalho (os novos e os velhos), outros cuidados durante a vinificação. Mas acredito que foi uma mostra de tudo o que foi conversado e os enólogos estão abertos para esclarecer todo o tipo de dúvida que o visitante tiver. 
Passamos à sala de degustação, momento muito esperado. Mostramos abaixo os momentos da "solenidade".

Degustação Chateau Haut  Bages Liberal -  Pauillac
O nosso pequeno grupo se espalhou pela sala para experimentar dois vinhos selecionados pela vinícola. Um ambiente destes é sempre muito agradável, por isto estou colocando mais fotos do que normalmente faço.





Confesso que ninguém teve tempo de analisar cores e sabores, mas tudo foi comentado pela enóloga, sabendo que todos eram neófitos, mas bom apreciadores desta bebida consagrada que vem sendo aperfeiçoada ao longo do tempo. 


Como tudo que é bom acaba rápido, esse chegou logo ao fim. Então partimos para Pauillac para o almoço. Sua rua principal fica diante do rio, com jeito de mar. Dali partiu o Duque de Lafayette para libertar os Estados Unidos da Inglaterra e há um monumento em homenagem. Fizemos uma caminhada ao longo do cais e depois fomos para o restaurante, numa sala reservada para o nosso grupo. Um momento pra lá de agradável, conversa fluindo muito bem, misturando inglês e francês. 
Restaurante Le Vignoble - France et Angleterre
O almoço prestigiou os produtos da mesa bordalesa: frutos do mar, foie gras e muito mais. 
Saindo do restaurante  a próxima etapa era a visita ao Chateau Gruaud Larose em ST Julien : www.gruaud-larose.com. Este terroir tem como característica um solo ácido e predominam os cascalhos. Ali se produzem Grand Crus Classés,  famosos por sua delicadeza e finesse.  Lindos jardins, tudo muito organizado.


Chateau Gruaud Larose

Os vinhos embalados como perfumes, dão a idéia da sofisticação e da delicadeza na produção da bebida. 



Primeiro fomos ao terraço suspenso, onde se pode apreciar a propriedade com as casas e o vinhedo.Uma linda vista. 



Lá conhecemos um jovem brasileiro que trabalha como guia. 
Depois passeamos pelos jardins, visitamos a Cave e tivemos novas aulas sobre o binômio vinha-vinho. 

Mas havia ainda tanto para ver que pretendo partilhar estas belezas.



Aulas com o guia oficial da Vinícola.







Acima as escadarias que trazem à fantástica adega.








É um passeio inesquecível, que terminou com a objetiva e muito real degustação, sempre de dois vinhos Grand Crus Classés. 

Finalmente vejam a adega com seus vinhos preciosos:



O último Chateau visitado foi o Kirwan: chateau-kirwan.com - endereço: Margaux - Cantenac - France. 




Também está entre os mais nobres, com vinhos classificados como Second Grand Crus. Lembrem-se que os primeiros são os Lafite, Margaux, Latour e outros ultra célebres e caros, mas que esta classificação dá a dimensão da categoria dos vinhos ali produzidos. 

O Chateau Kirwan tem belos jardins de gramas e roseiras. O casarão é antigo e tem ares românticos.






 A enóloga era uma chinesa, muito  eloquente e também simpática. Deu nova aula junto às vinhas e fez todo o circuito dos demais. O que foi bom para fixar os ensinamentos. Ao final, na degustação foram servidos o Chateau Kirwan, Schröder & Schÿler - 2011, Grand Cru Classé e Charmes de Kirwan - 2011. Além dos vinhos excelentes ainda fomos mimados com canelés ( me perdoem os portugueses, mas eles lembram bem os pastéis de Belém).




Não deu pra sair bêbada, porque a degustação era controlada e ainda se podia despejar o conteúdo em pias com água corrente. Eu acabei fazendo isto. Nunca imaginei que pudesse um dia desperdiçar uma gota que fosse de um vinho desta estirpe! Tudo uma questão de limite. Cada um sabe o seu e o momento de parar. 
Rememorando, muitos souvenirs relacionados ao vinho podem ser comprados na sala da recepção. Nunca resisto aos aventais de "Chef" e alguns presentinhos para familiares, como conjuntos de abridor de vinho combinando ou com panos de prato ou com aventais. Além da bebida,claro.
E assim acabou nosso dia numa das  regiões mais emblemática da França.  Salut e au revoir. Nos encontraremos a caminho dos Alpes nas próxima postagem.  
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