sábado, 12 de fevereiro de 2011

UNEXPECTED BACK HOME OU O ENIGMA DAS PIRÂMIDES

A nossa última semana em Londres foi bem planejada, retornamos a vários pontos tradicionais da cidade.
Acima: troca da guarda, no Palácio de Buckingham
Começamos a nos despedir dos nossos restaurantes usuais, mas descobrimos que o Safadi fechara para reformas,  e a sorveteria  Hagen Daz,  em  Leicester Square parece fechada para todo o sempre ( What a pity!).
Na semana anterior  havíamos trilhado a Lowndes St para tirar o visto na Embaixada do Egito e estávamos pensando em deixar o visto da Jordânia para a entrada no país, uma vez que a  companhia de turismo informou que não há problemas em pegar o visto na entrada.
O mais importante seria o Egito, não poderíamos vacilar.
Foram muitas as passadas na HARRODS, que fica próxima a Embaixada. Vou descrever a loja para os interessados em outra postagem de dicas.
Desde quarta feira eu comecei a me preparar para as férias: manicure, luzes etc... Quinta feira, dia frio demais, acordamos cedo como sempre,  rumo a escola. Após as aulas , como caiam uns floquinhos de neve, resolvemos ir ao British Museum. Almoçamos num pequeno bistrô vizinho ao Museu  e fomos rever  algumas peças  relacionadas ao Egito, tiradas de tumbas e das pirâmides, além da pedra de Roseta, que encanta a todos que a contemplam e conhecem o seu valor histórico. Voltamos para casa, como sempre, a noite.
 Nas semanas anteriores viramos na BBC notícias de uma revolta popular na Tunísia. Isto nos soou distante. Uma mera notícia de acontecimentos pelo mundo. Mas na semana seguinte rumores davam conta de que alguma coisa similar estaria ocorrendo no Egito, nosso próximo destino. Arrumando as malas, parei para seguir a reportagem que já mostrava  imagens de manifestações populares não muito pacíficas. Comentei qualquer coisa com o Toninho e continuei  com a árdua tarefa de fazer caber meus "belongings" nas quatro malas que me sobravam (mandara uma para o Brasil pelos  filhos abarrotada com os casacos de lã, mas ainda sobrava muita coisa ..roupa de frio  faz mais volume). Fomos dormir.
Dia seguinte, último dia de aula e também do mês.
 A cada final de mês a escola faz uma virada, muda professores, livros e as turmas  também. Poucos colegas continuam juntos. Eu só tive uma colega que me acompanhou em todas as turmas por que passei: a Boram, da Coréia, uma menina sensacional. Somos ótimas amigas, apesar da diferença de idade. Ela deverá cursar universidade em Londres a partir do próximo ano. No dia anterior fui presenteada por ela com doces e salgadinhos típicos da Coréia. A comunidade coreana da escola, em geral era muito afável, com o seu costume, sua  timidez, sua refinada educação, sua fala baixa, mais do  que a dos londrinos, ou seja, quase imperceptível.
O dia então foi de despedidas. No intervalo eu e a colega Ella , da Rússia, saímos para comprar um buquê de flores para a Felicity, nossa teacher. Uma inglesinha pra lá de extrovertida, que fala mandarim e grego (ufa!) mas muito exigente com freqüência, lição de casa e atenção nas aulas (strict, como dizem os ingleses).
Recebi meu diploma . Se continuasse  estaria mudando de nível, para o Upper. Fiz boa prova. A Cultura Inglesa que me aguarde...
Depois do adeus à escola e a colegas, fomos almoçar  e a seguir para o hairdresser  que estava marcado há uma semana.
Quando voltamos a noite para casa Toninho estava preocupado. Escutei ele resmungar qualquer coisa semelhante  a “ é, a  situação no Egito está  engrossando, acho que não poderemos viajar”. Isto soou para mim como uma brincadeira. Imagina! Estamos com tudo pronto, passagens compradas, hotéis, tour e navio reservados! Nem pensar em semelhante hipótese!
Comentamos com a Mary, nossa hostess e ela demonstrou tbém preocupação, pois havia acompanhado as notícias pela BBC. Subimos para o quarto ligamos a TV. A  BBC, que embora repetitiva é confiável,  estava transmitindo direto do Egito. As notícias eram alarmantes e havia buxixos de que a família do Mubarak chegara a Londres (todo mundo vem pra Londres), com cem malas e por certo camelos e escravos..Júlio meu neto riu muito quando contei esta passagem, imaginando cem escravos levando as cem malas na cabeça, que, segundo ele, estariam abarrotadas  de cachecóis. Para uma criança de 4 anos ir pra Londres significa levar muitos cachecóis para proteger daquele frio inclemente.  Ainda estão frescas em sua memória as férias de Natal.
Já era tarde, decidimos deixar tudo preparado  e rumar para Heathrow logo cedo (nossas passagens estavam marcadas para as 14.00 horas). Estávamos programados para viajar durante 20 dias e depois retornar  a Londres após as férias. Nossas malas de roupas de frio ficariam sob a guarda da Mary.
Eu  ainda tinha esperanças de viajar, mas desde cedíssimo a BBC já falava da conflagração e da violência nas ruas. A operadora de turismo, de quem compráramos o pacote, nos orientava a irmos para lá pois não se tratava de nada sério. Estava desinformada.. na melhor das hipóteses.   O que víamos na televisão não deixava margem a dúvidas, resolvemos ir até os balcões da  Egypt Air em Heathrow para o cancelamento das reservas. Foi o que fizemos. Como estava encerrando nossa estadia, também era hora de sair da casa . Lá mesmo no aeroporto fizemos a reserva para o Hilton, que  fica no terminal 4, com o qual  o hotel tem acesso direto.
Acima: vista da janela do Hilton para o próprio hotel, tudo em armações metálicas e vidro,  permitindo ver a paisagem fora.

Facilitaria nossa vida, sem termos que tomar táxi com tanta bagagem e poderíamos monitorar de perto as negociações para nossa antecipação da vinda para o Brasil.  Reservado o hotel a próxima etapa era a conversa com a TAM.  A loja estava fechada e só abriria a uma da tarde. Fomos almoçar no Rouge, um restaurante nosso velho conhecido. É por sinal o melhor dos existentes no aeroporto, quem precisar comer no aeroporto é uma boa opção. Trata-se de uma cadeia de restaurantes  de comida francesa. Há boas saladas e um prato eu me apaixonei e sempre repetia : mushrooms (cogumelos) passados na manteiga, com ervas finas. Muito bom, é start, vem numa porção razoável para entrada. Depois do almoço seguimos para a TAM e apesar da insistência do Toninho não havia passagem para aquele mesmo dia. Eu também me recusava a sair assim, de repente, como se estivesse fugindo. Fugir, só da guerra. Eu não estava preparada psicologicamente para deixar Londres e interromper a nossa viagem ainda tão cheia de planos ..
A TAM conseguiu  lugares para nós no domingo...
Das mordomias que o hotel oferece só conseguimos  usufruir do confortável apartamento, para descansar, bem entendido! Fizemos o check in , no hotel, no meio da tarde.
Para buscar nossas malas, chamamos mais uma vez aquela empresinha de taxi do bairro que pede um preço e depois cobra outro..paciência. O imigrante que  dirigia o carro  era o mesmo de outros carnavais. Insistimos com ele sobre o preço, na saída Mary ainda gritou "tratamos por  GBP 15,  entendeu?! " Mas não adiantou, o danado quis cobrar 25 e por fim acabou deixando ( rsss) por GBP 20. O velho e conhecido truque de pedir mais para negociar e chegar ao preço pretendido.
Bagagens no quarto, tomamos o metrô para Picadilly. Subimos a Regent Street até a loja da National Geographic. Os meninos fazem aniversário este mês e adoraram as camisetas da loja, então fui lá comprar.
Depois ainda fomos nos despedir do Café Concerto (Regent Street), cuja entrada está sempre obstruída por orientais com suas máquinas fotográficas tirando fotos das vitrines e seus lindos bolos decorados. Já havia passado a hora do chá, que pena,  acabei tomando uma saborosa sopa, com um vinhozinho, pãezinhos e por fim doces, que a gente escolhe na vitrine.
Domingo fizemos o check out  no hotel  por volta das 12 horas e tratamos de ir pedir o VAT REFUND no aerorporto (explico tudo nas próximas dicas) .
Acima: passarela que liga o Hotel Hilton ao terminal 4 de Heathrow

Preenchi todos aqueles formulários, entrei na fila , que aquela hora não estava muito cheia.  O policiamento era ostensivo no aeroporto, policiais de metralhadora gritavam para que ninguém deixasse bagagem sozinha que eles destruiriam. O alto falante estava incansável tbém nas recomendações. Nunca tinha visto um aparato assim  em Londres, mas seguramente era por causa da questão do Egito e pelo fato da família do Mubarak ter ido para lá. Poderia sobrar pra Inglaterra, não convinha arriscar, principalmente depois dos atentados ao aeroporto de Moscou, muito repercutido pela BBC, prestigiando a colônia russa em Londres que parece maior que a brasileira.
Começamos  os procedimentos para o embarque passando pela polícia de fronteiras e os alarmes soaram para o Toninho.. Foi um deus-nos-acuda, revistaram ele dos pés à cabeça, teve que tirar os sapatos, enfim era apenas o hearing aid que ocasionou toda aquela apreensão. Cuidado disabled  and less able, em Londres estes problemas não são muito considerados e nem podem servir de pretexto para nada.
Depois disto ficamos ainda bastante tempo nas ilhas  de embarque, cercados de lojas por todos os lados. Lá dentro tem tbém uma mini-HARRODS, e dá para comprar os últimos souvenires.
Viajei de business class e a viagem foi bastante confortável. Há espaço para deitar o banco, a comida é diferenciada (tanto que tinha um enorme cabelo no meu fois gras..e eu odeio cabelo na comida argh). De todo modo o tratamento é  mais personalizado. Uma champagne logo ao entrar no avião que é para  fazer esquecer as dores do retorno.
Chegamos, não  avisamos ninguém. Viemos direto para casa. Os filhos mandavam torpedos e diziam para ligarmos o skype que eles precisavam falar conosco. A gente retornava os torpedos no nosso celular londrino que aqui é conveniado com a TIM e dizíamos que estávamos sem internet porque nos mudáramos para o hotel. A noite  os surpreendemos, com uma visita inesperada. Muita alegria no reencontro.
Não sei se este é o fim da estória, mas  esta viagem  foi abruptamente  interrompida. Ainda estou perplexa.  A vida não pára, mas estou de quarentena. Ainda não me acostumei com o calor, faz tempo que não o sentimos já que fomos para Londres ainda durante nosso inverno e no começo do outono deles. Também  não falei com os amigos e nem noticiei para os amigos londrinos que partimos.
Aqui tudo do mesmo jeito. Fui ao supermercado e ouvi bate bocas desnecessários, fiquei vermelha..achei que havia algo de errado, mas não havia. É assim mesmo. Não que eu pretenda importar cultura de outros povos, mas um pouco de polidez faz muito bem pra todo mundo. Lá não é comum gritar no trânsito, nem xingar na rua. A sensação de segurança é grande, você pode andar de noite nas ruas (quase) sem medo. Exceções lá só  existem para confirmar a regra. Portanto, quem não gostaria de ficar muito tempo num lugar destes? Todo mundo bem vestido, cheios de bons programas para fazer (muitos de graça),  dezenas de parques  na cidade, rios e ruas bastante limpos.  
Tá certo que a Grã Bretanha é um país velho, cheio de tradições, castelos e bruxas, rainhas e ladies, mas bem que eu gostaria de poder cantar ao mundo que meu país é melhor. Eu até tentei dizer que não eramos puro samba e futebol, falei das nossas riquezas, procurei explicar o grande teatro que é o carnaval e as coreografias, disse dos costumes como o chimarrão (o nosso tradicional tea...etc) e as outras danças, como as gaúchas, mas acho que ninguém acreditou. A imagem que se tem por lá é de uma gente dançando nas ruas, sem roupa. Se fôssemos polidos e limpos (falo de não descartar lixo pelas ruas),  seríamos um país perfeito, pois temos uma linda natureza, montanhas e praias, temos o Rio de Janeiro e Salvador, tantas outras, só que tudo minado pela  violência e pela impunidade (que é um ponto cultural forte nosso), muita insegurança, vida muito cara para a população, cidades poluídas e sujas. E líderes dando mau exemplo à população, mostrando que esperteza e levar vantagem é que é normal.
Ah! Esqueci de falar dos corruptos: escândalo por lá costuma dar cana! Um político, rico e poderoso fez um esqueminha de falsificar notas de compra para reembolso; em questão de um mês estava com a condenação decretada e cumprindo pena em prisão fechada. Quando comentávamos o caso com algum britânico eles ficavam desconfortáveis e envergonhados. Isto se chama dignidade, vergonha na cara.
Gostaria de um Brasil assim,  sem certas coisas...
FOI UMA EXPERIÊNCIA MARAVILHOSA...PASSOU...PÉS NO CHÃO... VAMOS TOCAR NOSSA VIDA POR AQUI..PORQUE SOMOS PARTE DISTO TUDO. GOOD BYE LONDON..... SEE YOU....
Quem sabe por onde e quando retomarei esta estória inacabada....

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

STONEHENGE E BATH

STONEHENGE E BATH

Foi um passeio casado. Visitaríamos nesse sábado os monumentos de Stonehenge e a cidade de Bath, com seus banhos romanos.
Fomos ver primeiro a estranha formação , sobre a qual só se fazem conjecturas, ninguém tem certeza sobre a sua origem e função.

O lugar é plano, levemente ondulado e   pode-se ver grandes distâncias de qualquer ângulo do terreno. É um lugar rural, com  propriedades de criação de bois (e que bois!), porcos e ovelhas. Estas últimas são cantadas em prosa e verso nas lojinhas de souvenirs do parque.


O sítio é muito próximo ao País de Gales, visível de Stonehenge quando o céu está claro. Gales naquele ponto  está muito próximo, é só atravessar um braço de mar. O que significa dizer que com ventos e a falta de barreiras naturais para contê-los ou amainá-los, o frio fica insuportável. A boca e os dedos ficam duros, congelados.

Mesmo assim foi possível apreciar a bela e misteriosa formação de pedras. Não se trata de nenhum colosso, e por isto pode decepcionar. De fato era difícil transportar cada uma das pedras por seres humanos primitivos que não dispunham de máquinas para auxiliá-los na árdua tarefa de levantar e assentar as pedras, mas é só. A sua importância reside no testemunho da existência de civilizações primitivas naquela localidade.
De Stonehenge fomos para Bath, patrimônio histórico da humanidade. O ônibus turístico parou junto à Catedral e ali diante da bela e solene igreja, fechada para reformas, foi reunido o grupo para a distribuição dos ingressos de visita às termas.


As termas foram construídas pelos romanos no século I da nossa era  e usufruídas por cerca de 400 anos. Abandonadas, no século XVII  foram redescobertas e reconstruídas para uso pelas  altas classes da Inglaterra. No século XX começou a restauração como a vemos nos dias atuais e as suas fundações romanas servem de base para a nova casa de banhos. Como  museu  abriga peças descobertas no local, tanto nas termas como no templo que lhe era anexo e dedicado a Sulis Minerva (fusão da deusa  celta Sulis com a romana Minerva). O sitio era chamado de Acquae Sulis pelos romanos, o que significa dizer que antes deles os celtas ocuparam o local e que havia um certo respeito dos dominadores pelos antigos habitantes e sua cultura.  Foram encontradas também lápides com o nome dos soldados mortos na localidade,  com  informações de idade e procedência. Dados muito importantes para arqueólogos e antropólogos estudiosos do perfil do povo que ali viveu.


Além disto ainda mostra o interior da primitiva casa de banhos, com canalização

e  piscinas. A temperatura da água que brota do solo é cerca de 46º centígrados e a quantidade que aflui diariamente é de mais um milhão de litros (informações ouvidas no local e confirmadas pela Wickipedia) .
O mesmo prédio abriga casa de chá,  SPA e loja de souvenirs e produtos variados.


A cidade não é só termas e possui outras atrações como o Royal Crescent, um complexo de edifícios em semi círculo, semelhante ao abaixo, que lhe fica vizinho. Este trata-se de um circus,  construído numa formaçaõ de 360º.

Tem ainda a Ponte Pulteney, sobre o Rio Avon, que se assemelha à Ponte Vecchio de Firenze.

O centro da cidade é interessante e as ruas comerciais são labirínticas e sem acesso a carros.
Saímos caminhando pela rua principal de comércio e seguimos até o Crescent. Depois voltamos para a beira do Rio para uma olhada na Ponte  Pulteney. As suas lojinhas voltados para o interior, pista de rolamento da ponte , não deixam transparecer a sua localização  tão privilegiada. Por dentro da ponte há uma escada de pedra que faz a ligação com a avenida beira rio, abaixo.

O rio é plácido e tem muitas aves aquáticas e até cisnes, mas esconde armadilhas mortais, que tem ceifado vidas dos mais experientes nadadores. Isto porque possui uma comporta e no local as águas ficam revoltosas e a correnteza é violenta.

A arquitetura embora diferente e bonita na sua visão de conjunto, individualmente olhando deixa transparecer uma certa monotonia e tristeza. De um lado há pouco verde, do outro muito concreto. Mesmo assim foi um interessante passeio e com isto encerramos nossas viagens pelo interior da Inglaterra. Daqui uma semana estaremos no

EGITO . Será?
Sim, lembram-se que falei nas primeiras postagens sobre uma estranha e misteriosa viagem que faríamos para encerrar este ciclo ? Pois bem, trata-se do Egito e da Jordânia. Resta saber se conseguimos chegar lá
Vocês vão saber estas e outras  aventuras na nova postagem, nos próximos dias!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

OLD YORK

O fim de semana não se mostrava promissor. O weather forecast dava previsões pessimistas sobre o tempo no norte da Inglaterra. Mas nós não tínhamos mais  muito tempo para escolha. Estávamos com passagem de trem sobrando e apenas mais três semanas no país. Pensávamos em conhecer ainda  uma simpática cidade inglesa, próxima à fronteira com a Escócia. Quanto mais ao norte por aqui, mais instável é o tempo e no inverno  as temperaturas são sempre muito mais baixas que no sul da Inglaterra. Parece que este ano ocorreram algumas alterações e o País de Gales e a Cornuália também ficaram imersos em neve e até sofreram com  enchentes.
Sexta feira, dia feliz, saímos de casa com as duas maletas (uma média e uma pequena) e fomos para a escola. Meio dia corremos para a Estação Kings Cross. Os planos eram de almoçarmos por lá e depois pegarmos o primeiro trem. Chegamos cedo, por volta de 12:30, lanchamos  numa das lanchonetes Subway, pois a Estação não tem restaurante. Partiria dali a pouco (1:20 pm) um trem para a Escócia, com parada em York -  a velha. Ótimo, chegaríamos cedo e poderíamos ainda fazer uns passeios pela cidade. O trem era da East Coast e a nossa passagem por ser flexível dava direito a qualquer trem (companhia) em qualquer horário. Só não tínhamos reserva, o que poderia dificultar algumas coisas, como achar lugares juntos, ou até mesmo sentar. Arriscaríamos.
O trem estava vazio, escolhemos os assentos. Quando partiu uma névoa escura cobria Londres, e uma garoa fina riscava a paisagem, confirmando as previsões meteorológicas. Paciência, poderíamos tirar o fim de semana para descansar no hotel. O famoso “lie in”. Bom.
À nossa frente viajava um senhorzinho de uns 90 anos. O alto falante anunciou a passagem do inspetor. Disponibilizamos as nossas passagens, o funcionário passou, muito gentil e sorridente, desejou boa viagem aos turistas de tão longe (nós) e continuou seu serviço. O velhinho nosso vizinho apresentou seu cartão, mas estava vencido. O inspetor explicou naquele tradicional inglês de muitos rapapés : “Sir, I´m afraid to tell you that you should be irregular... and so on..O velhinho não se alterou. Sorry, I’m awful sorry to tell you that I’ll give you a penalty. E o velhinho argumentava sem muita  vontade, que estava correto, ecc. O empregado insistia e começou a lavrar a multa , mas o velhinho com a fleugma britânica nem se a abalava. Um pouco alterado o inspetor pedia: Please Mr. sign here.
- No, I won´t, reiterava o velhinho, do alto de sua elegante capa verde musgo, de  forro xadrez e um belo cachecol sobre o tom.  Sorry Mr., but i’m quite sorry to advertise you that I’m calling the police…
Chiiii, falei para o Toninho, a coisa tá encrespando.
Fecham-se as cortinas, sai do cenário o inspetor. O velhinho continua impassível olhando o céu que já ia azulando, pela janela .
Abrem-se as cortinas, volta o inspetor, agora furibundo deixando de lado toda a elegância inglesa: Senhor eu sou uma autoridade e o senhor está me desrespeitando. Assine aqui agora! - Não!, foi a resposta. O inspetor começou a gritar feito um desvairado, mas não conseguiu demover o velhinho de sua intenção: nem assinar, nem pagar a multa.
Que stress, que falta de sossego, quando tudo parecia tão sereno tínhamos que ser testemunhas deste tremendo arranca-rabo inglês!
Mas parecia que tudo havia se acalmado, quando começamos a divisar a próxima cidade.
Fui ao banheiro e pela janelinha pude ver um movimento de policiais. Eu havia escutado também que o inspetor falava pelo rádio com alguém na estação, seguramente estava chamando a polícia.
O trem parou. Eu estava tensa, como será que eles tratariam o velhinho? Partiriam para agressão física? Cacetetes na mão?
Bem, a porta do vagão se abriu e entraram três sisudos policiais, com seus redondos e negros capacetes, uniformes impecáveis, sapatos lustrosos, algemas polidíssimas, quase um espelho. Se acercaram do velhinho: Good afternoon Mr. Could you folow us?. We must to talk to you...
Bem,  autoridade é autoridade e com um convite destes não há resistência possível. A conferência deu-se na intersecção de dois vagões. Tudo no mais puro estilo inglês de cordialidade e  civilidade. Contrariamente ao que eu pensava, os guardas procuraram apaziguar a situação, talvez por causa da idade do infrator. As vozes nunca se alteraram, mas o velhinho enfim foi convencido a assinar a multa de GBP 20, e pagar a passagem no valor de GBP 40. Ahahaha. Muito engraçado, para nós brasileiros. Agora posso soltar a gargalhada que ficou retida na minha garganta, com todo o inusitado da cena e da própria estória.
Chegamos a  York meia hora depois do fim dessa novela policial burlesca. O frio estava intenso, aqui sempre por volta de zero graus, variando a sua intensidade e a sensação térmica, com a presença ou não de vento.
Hospedamo-nos no Ibis, próximo a estação e as portas da cidade.Confiram:


 A primeira visão que tivemos foi da muralha, porque a estação fica do seu lado exterior, separado apenas por uma rua.

Feito o check in saímos passeando. Precisávamos fazer uma oração e resolvemos ir direto na Catedral de York.


Ao entrarmos vimos um anuncio de que iria começar em quinze minutos um serviço religioso com o coral da igreja. Foi muito bonito e solene, o "choir" era muito profissional, eles levam muito a sério qualquer atividade, mesmo que seja um hobby.

Depois disto ainda passeamos pela cidade velha, céu aberto, lua linda e cheia, muito prateada, dava um ar fantasmagórico à cidade, se esgueirando por trás de velhas torres de pedra, árvores secas, velhos prédios medievais abandonados, cemitérios de lápides tortas,  também muito antigos. Arrepiante.

Fomos jantar no restaurante Gert e Henry, comida saborosíssima e cuidadosamente elaborada, clima suave. Localizada na Market Street:


a velha casa de  1600 é de fato muito charmosa, com lareira da época, em ferro, que servia também de fogão para os seus primitivos moradores. 

Tudo fascinante, tanta história, tantas vidas passadas. Tudo ali, presente. Relembranças.


Fomos dormir, bom aquecimento. Acordamos por volta de 9:00 horas. Tomamos um bom café da manhã e pé na estrada. Caminhamos por sobre as muralhas, apreciando as casas de dentro e de fora.



Descemos no centro da cidade. Entramos  casualmente no parque onde está localizado o museu arqueológico de Yorkshire.

A região é muito rica neste aspecto porque por ela passaram celtas, romanos, saxões e vikings, além dos normandos. Há muitos vestígios destas civilizações: moedas, jóias, vasilhames domésticos, túmulos com inscrições. Das escavações foram retiradas  paredes, pisos de mosaico, utensílios domésticos. Voltamos à rua do  Mercado, que parecia de fato medieval, como se vê nos filmes.
Almoçamos frugalmente porque eu estava de olho na janta (depois conto). Caminhamos por todo o centro velho.

Seguimos para a Rua do Mercado, tão medieval que até parece cenário de filme. Compramos algumas lembrancinhas e panos de prato com receitas como a do  Yorkshire pudding.




A seguir fomos ao museu Viking JORVIK. Muito interessante. Entre áudio visuais e vestígios de escavaçôes se chega a uma sala com cadeiras tipo teleférico. Embarca-se e viaja-se no tempo, pela história dos vikings: suas casas, parte interior e exterior, quintais, criações, cachorros, mercados de peixe e de carne, barcos. Os cheiros são característicos da época e não chegam a ser agradáveis. Os bonecos são robotizados e se movem. Vale a pena ver, principalmente se estiver acompanhado de crianças e adolescentes. É como um parque temático.
Visitamos ainda a torre Clifords, cujo morro artificial foi feito pelos normandos em 1090.

Finalmente a tardinha, já escuro, fomos à tradicional Casa de Chá da Betty ( a janta de que falei acima) . É semelhante a Confeitaria Colombo, do Rio de Janeiro. Quem não se lembra da bela casa de chá em Copacabana, com piano (aliás quem tocava lá era um primo de minha mãe) e quitudes deliciosos?! 
A Casa da Betty  ( Bettys Cafe Tea Room) também tem um belo piano, música suave, baixelas de primeira qualidade, louça inglesa (nacional!) da mais requintada. O serviço é impecável, os salgadinhos servidos em bandejas de três estágios. Os docinhos muito bem decorados, sabores atraentes,  marzipan, marron glacê e outras iguarias. Não sobrou farelo. O chá veio servido  com leite, como quando eu era criança (e não gostava) mas resolvi arriscar. O gosto de infância prevaleceu sobre o paladar. Adorei. Foi o melhor chá completo que tomei no Reino Unido, o famoso 5 o’clock tea, que ninguém mais sabe o que é. Agora eles chamam de Afternoon tea. Que decepção!
Voltamos para o hotel, noite alta, jovens pelas ruas em grupos, roupas extravagantes, moças com sapatos altíssimos, mini-saias curtíssimas, vestidos leves próprios para  uma balada no Rio de Janeiro e não na velha York,  alguns graus abaixo de zero. Um frio de atormentar.
Domingo saímos novamente sem lenço e sem documento, rodeando as muralhas. O Rio  Ouse transbordou em alguns pontos.
A Municipalidade estava com bombas tirando o excesso das ruas vizinhas. Os moradores pouco se importavam com o pequeno incidente atmosférico e  corriam pela avenida que margeia o rio ou faziam remo, um esporte bem apreciado por aqui.
Chegamos por vias transversas ao centro, fomos visitar o  Museu do Castelo (York Castle Museum). O tema é relativo a casas vitorianas e a evolução até os anos 50 (1950). Bem ambientado,  ruas e armazéns, delegacias e escolas. Depois apareceram as primeiras máquinas domésticas, os “reclames”, as primeiras caixas de sabão em pó (rinso, etc..) Ainda mostraram um casamento, um funeral, nascimento nas mesmas épocas, tudo com documentos e fotos de habitantes da cidade. Também tem uma exposição de antigos brinquedos. Bastante interessante.

Almoçamos num restaurante italiano  o Piccolino,  do lado do rio, na 18, Bridge Street. É excelente a comida e o ambiente é refinado. Voltamos ao hotel, fizemos o check out e volta para Londres. Desta vez  sem " noise" , sem o velhinho do golpe. 
Ainda sobre York eu recomendaria por se tratar de cidade muito rica historicamente, por poder ser explorada em pouco tempo,por  ter uma arquitetura atraente e diversificada, comida excelente e povo muito afável. Apreciei.
Nos encontramos em STONEHENGE....sábado que vem.
 



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