FOUGÈRES - BRETANHA
Saindo de Giverny viajamos três horas de carro. Mas estávamos meio perdidos, porque o GPS não reconhecia o nome da cidade. Também não a achávamos nos mapas. Então esteja alerta, se for a Fougéres de carro leve mapas e orientações precisas. Resolvemos finalmente colocar como referência o Mont Saint Michel, que fica próximo, e aí deu tudo certo. Tomamos nosso rumo. Da rodovia já podíamos avistá-lo.
A cidade se situa a 1 hora de Saint Malo, 30 minutos de Rennes, e 1 hora
e meia de Caen.
Chegamos as 21,30 da tarde em Fougères. Nos hospedamos no Best Western, Hotel des
Voyageurs, na Place de Gambetta. É bem no centro da CIDADE ALTA, mas
próximo também da Cidade Baixa. Difícil estacionar ali. O Hotel fica numa
rótula e o movimento é grande, ficava ruim até para descarregar as malas.
Mas logo achamos estacionamento coberto e deu tudo certo. Porque as coisas
sempre se acomodam a medida que nos familiarizamos com elas. A acolhida no
hotel foi muito cordial. Todos falam isto do interior da França, e este é o
diferencial em relação à cosmopolita Paris. Mas depende muito do
local e do momento. Não dá para generalizar. O Hotel é confortável, os quartos
arejados e claros com amplos janelões e o banheiro uma verdadeira sala. Pela
manhã tomamos um farto café, que custou 11 Euros. Não tínhamos optado pelo café
da manhã no pacote do quarto e então pagamos à parte. Havia uma deliciosa
variedade de pães, queijos, frutas, iogurtes, sucos pressé ( suco natural de laranja), cereais. Ou seja, o café da
nossa casa, com tudo que gostamos. No Meliá o petit dejeuner era
semelhante, mas com menos variedade e mais caro.
Logo depois do café, bem forrados para enfrentar o frio que ainda se
fazia sentir, atravessamos a rua e já estávamos diante do chafariz e da famosa
feira dos sábados. Na Praça Aristide Briand, onde começa a feira de roupas , também fica o Tribunal da cidade (Hôtel de la
Belinaye).
Hotel de la Belinayes - Tribunal |
É onde se concentram bares, cujas mesas ficam nas calçadas,
docerias, supermercado (achamos um Carrefour) e mercearias.
Sobre a feira: Há uma grande variedade de produtos à venda, desde chinelos grossos de lá ou pele , pijamas, casacos, roupas em geral e mais adiante, perto do Teatro, a seção alimentação. Daqueles que aguçam a gula dos apreciadores das iguarias francesas, principalmente as artesanais, feitas nas fazendas vizinhas, como queijos, azeitonas, temperos e frios em geral. E perseguindo todas aquelas delícias, entre legumes e verduras, os tomates lindos ainda com o cabinho, a cidade foi se revelando com o que tinha de histórico e turístico para ver. E a gente não vai falar pouco, embora a cidade seja um ovo.
tomates com cabinhos - lindos |
Essa feira se encaminha do Largo Aristide Briand, de que falamos acima para a rua principal da Cidade Alta, a Rue Nationale, estendendo-se até as proximidades da igreja de Saint Leonard. São tradições que remontam à idade média.
Pelo caminho logo encontramos o Teatro Victor Hugo, com as barraquinhas e roupas penduradas, bem
na sua luxuosa entrada.
Fica na encruzilhada da Rue Nationale, numa pracinha que leva o sugestivo nome de Place du Théatre.(rss) O prédio foi inaugurado em 1886, no estilo italiano e atende os interesses culturais da comunidade, cujo gosto pela música e espetáculos artísticos vem da tradição. As visitas tem que ser agendadas.
Do lado direito de quem percorre a Rue Nationale, preste atenção numa
torre, que fica quase na esquina da Rue du Beffroi. O monumento, que deve ter
dado nome à rua, é chamado Beffroi. Foi construído pela população
local, simbolizando o poder e a riqueza do burgo. O seu relógio vem regulando a
vida dos cidadãos por mais de 600 anos. É o "beffroi " mais antigo da
Bretanha. Coisa para se apreciar.
Ainda na Rue Nationale, 37 você pode apreciar o Museu da Relojoaria, com
mais de 200 peças em exposição. O relojoeiro exerce seu ofício diante dos
visitantes. Há preciosidades para quem se interessa pelo segmento.
No número 51 encontra-se o museu Emmanuel de Villeón. A casa em que o
artista pós-impressionista e fougerense residiu é típica da Bretanha. Possui
travas de madeira na vertical, um alpendre ou porshe, telhados de ardósia e janelas vermelhas. Além das telas do
autor, a casa é um atrativo à parte, por ser das últimas remanescentes (no
estilo), do século XVII.
No final da rua, numa pequena praça denominada Place de L'Hôtel de
Ville, há a Igreja de Saint Leonard e também o próprio Hôtel de Ville.
A Igreja é toda assimétrica, destacando-se a alta torre, apenas uma, onde se encontra o relógio. O estilo da fachada é néo-gótico flamboyant. Na capela lateral logo à esquerda de quem entra, (dedicada à vida de Saint Benoit - muito prazer em conhecê-lo) podem ser vistos os vitrais mais antigos da Bretanha.
A Igreja é toda assimétrica, destacando-se a alta torre, apenas uma, onde se encontra o relógio. O estilo da fachada é néo-gótico flamboyant. Na capela lateral logo à esquerda de quem entra, (dedicada à vida de Saint Benoit - muito prazer em conhecê-lo) podem ser vistos os vitrais mais antigos da Bretanha.
O campanário, aberto só no verão e com visitas limitadas a 19 de cada vez por
questões de segurança, possui coleções de estátuas em madeira
policromadas.
No prédio contíguo fica o Hôtel de Ville, com uma fachada que me
encantou. Data do século XVI , em pedra e telhas de ardósia.
Hôtel de Ville e Igreja de St Leonard |
Entre a igreja e o prédio do Hôtel de Ville há o portão de entrada de um jardim público, florido, muito harmonioso. Sua bela vista desnuda a CIDADE BAIXA, onde estão situados a vila medieval, o famoso Castelo de Fougères e a Igreja de Sans Sulpice.
A descida é íngreme, através de rampas e escadas, mas por se contornar
árvores, arbustos e maciços de flores nem se sente. Encontrar a parte baixa,
onde corre o Rio Nançon, é um mergulho no passado. As casas são em
pedra e muitas possuem aquelas travas de madeira, características das moradias
bretãs.
O BAIRRO MEDIEVAL
Ziguezaguear pelas ruas é um deleite. Serpenteando por entre elas o rio desce
com seu murmúrio, refletindo as plantas, os jardins vizinhos e aqui e acolá o
casario de pedra e madeira. Quando nos damos conta estamos nos contrafortes do
Castelo, que pode ser visto de qualquer lugar ou ângulo, pelas suas
dimensões.
Mas antes de falarmos do maior tesouro da cidade, temos a dizer que assim que
se atinge a parte baixa, vindo dos jardins públicos da Igreja de Saint Leonard,
cruzamos pontilhões, apreciamos antigas casas de fazenda, comércio e
residências.
No bairro havia tecelagens, moinhos de farinha, curtumes e outras propriedades, ligadas ao meio rural, e tudo está mantido, só que com variadas destinações. As casas hoje ganharam mais algum charme pelos cuidados, mas estão de pé para testemunhar o passado, usos e costumes de uma época que já lá se vai...
Perder-se nas suas ruelas, sentar na soleira das janelas que espreitam a
calçada, sentir curiosidade pela decoração dos interiores, que se insinuam pela
transparência das cortinas, os jardins, as floreiras, baixar os olhos para
o rez-de-chaussés e levantá-los para
admirar as janelinhas do grenier, são
momentos únicos entre você e o passado, a cultura de um povo, tudo o que você
pode sorver dela ante tanta informação. Perscrute cada detalhe da construção,
como as pedras, os nichos, as vigas de madeira, os entalhes.
No coração do bairro encontra-se a Igreja de Saint Sulpice. Construída
nos séculos XIV e XV e terminada no século XVIII. O estilo é gótico-flamboyant.
EGLISE DE SAINT-SULPICE
A velha igreja é em pedra granítica. As portas são maciças de madeira, com aldrabas e grossos ferrolhos. O teto abobadado é preenchido de madeira e há vitrais portentosos que filtram suavemente a claridade, trazendo a solenidade ao ambiente de oração e recolhimento.
Os jardins em volta do prédio, são sóbrios e silenciosos, daqueles que levam à paz e à reflexão (além de gelado).
Agora que nos avizinhamos do Castelo, decidimos almoçar.
EM BUSCA DO CASTELO E DE COMIDA
Mas foi frustrante. Tentamos almoçar no restaurante Crepêrie Tivarro, com vista para a muralha. O restaurante é muito recomendado, com placas ao longo do caminho. Dizem que tem certificado de excelência, mas eu não apostaria nisso. Mal educados, descorteses, ambiente enfumaçado. Se tivéssemos ficado talvez saíssemos de lá defumados. Mas é até compreensível por se tratar de comida de fazenda. Devem reproduzir os mesmo hábitos rudes do meio rural. Nada do charme apregoado. Desistimos, assim como outras pessoas que estavam na fila atrás de nós. I'D NOT RECOMEND.
Prosseguimos então rumo ao nosso objetivo maior: O grande Castelo. É uma
construção altaneira. Cercado de muralhas de pedra e torres, depois de receber
um longo abraço do Rio Nançon, que lhe serve como fosso. E aí vai descendo caudaloso em direção a parte mais baixa da vila. Fomos apreciando as altas muralhas e a grande Porta, ainda de pé.
Porte de Notre Dame ao fundo |
Nos tempos medievais havia quatro portas para entrada na cidade. Junto aos paredões do Castelo ainda persiste a famosa Porta
de Notre Dame. Nos dirigimos para o lado esquerdo(oposto à Porta) e com alguns minutos de caminhada nos deparamos com o estacionamento para ônibus de
excursão e veículos em geral. A seguir chegamos à Place Raoul II, na entrada do Castelo.
Da praça para o Castelo se cruza uma pequena ponte sobre o Rio. É neste ponto
que ele entra por um leito declivoso em volta das muralhas.
Ah! Agora ficava mais fácil para almoçar. Várias opções de restaurantes.
Escolhemos o mais próximo da entrada do Castelo, o Duchesse Anne.
restaurante Duchesse Anne ( do toldo vermelho) |
Com
casas de arquitetura semelhante formava um belo painel ao fundo da praça.
As demais opções existentes eram todas recomendadas pelos guias locais,
mas como não desconfiamos do guia local não recomendaremos.Apenas os enunciaremos,
exceto o Duchesse, cuja comida experimentamos e que não desapontou. O vinho
Bordeaux estava aveludado, muito saboroso, ficando melhor a cada gole. A
comida,tipicamente francesa, consistiu num assado de costela de cordeiro,
que estava verdadeiramente saborosa. Além do crepe salgado que minha nora pediu
e aprovou. De sobremesa escolhemos o crepe Suzete que estava assim como se
vê abaixo.hummmmm!!
Outros restaurantes na Praça: L'Auberge du Chateau e
Crêperie Raoul II. Se prosseguíssemos pelas margens do Rio Nançon e subíssemos na direção da Cidade Alta logo encontraríamos outros restaurantes como o Galon ar Breizh, na Place Gambetta, o Boulevard Le Haute Seve ( na Jean Jaurés,37 próximo ao Tribunal), Au Cellier na Place Carnot, 1 - também junto ao Tribunal).
A HISTÓRIA
Tudo começou no século X, com a presença de
vikings no ponto alto e rochoso, encruzilhada de uma parte importante do mundo
antigo: Normandie, Bretagne, Maine e Anjou. A presença daqueles guerreiros do norte trazia preocupação à população
local.
Mas foi no século XI que os bretões tomaram a iniciativa de edificar
naquele promontório estratégico, um Castelo. Só para marcar território, pois o
Castelo era de madeira e o Rei inglês Henrique II, o invadiu e incendiou. Foi
quando o Barão Raoul II mandou reconstruí-lo em pedra. Uma medida sensata para
uns povos tão belicosos. Esta edificação foi sendo enriquecida até o século XVII,
quando a deram por concluída.
Muitos personagens da história residiram por ali ou apenas o usaram para
defesa da região, Como o mítico Nominoë, Francisco II e Ana da Bretanha, dentre
outros.
NO século XIV DuGuesclin ocupa a cidade e o baronato bem como as
propriedade passam ao Senhor de Alençon.
Mas foi na Guerra dos Cem Anos, no século XV, que o destino da região
foi selado. A cidade e o castelo ficaram afastados do conflito até o ano de 1489,
quando Suriennes em nome da França tomou de assalto a fortaleza. Um ano antes a
Bretanha havia sucumbido e passou a fazer parte da França.
Contudo, depois da anexação, entre os séculos XVI e XVIII o Castelo foi
esquecido e entrou em decadência. As construções existentes no Pátio de Armas
desmoronaram. O seu reconhecimento e a importância que lhe é dada hoje, só
aconteceu com a compra da propriedade pela Comuna de Fougères, no século XX.
Foi então declarado Monumento Histórico.
OS INGRESSOS
A recepção com bilheteria e loja de souvenirs, está no nível térreo da
praça. Lá se retiram os folders, pode-se comprar livros que falam da história
do lugar e se recebe áudio-guias. O
turista é orientado a descer aos subterrâneos, para ver um filme sobre o
Castelo e apreciar as suas estruturas. Há elevadores para pessoas com pouca
mobilidade. No retorno, é que se sobe aos portões de ingresso propriamente.
O INTERIOR DA MURALHA
A edificação está muito bem preservada, dizem ser das mais bem preservadas dentre
os Castelos/Fortes da Europa.
Como há um fosso em volta, o acesso se dá por uma ponte levadiça, muito
estratégica na sua defesa. Junto ao rio, encostadas na murada
oposta ao forte existem quatro moinhos, que foram restaurados recentemente e
estão em pleno funcionamento.
Três torres estão erguidas na entrada. Uma central, onde os visitantes
entram é retangular e as janelas na verdade são estreitas seteiras, que
protegiam os guardas dos ataques dos inimigos. Esta é a Torre de La Haye de St-Hilaire.
A divisão interna do grande forte, contempla três áreas:
A primeira é após a transposição da torre, onde existe um pátio fechado.
Pareceu-me área de segurança. Depois se transpõe outra torre interna e se ingressa
no segundo ambiente, que é um largo pátio, gramado e ajardinado. Do lado
esquerdo estão as ruínas dos casarões senhoriais, e a Capela (junto da Muralha).
No meio um poço.
No canto oposto à entrada está o ponto mais alto da muralha e o mais importante em toda a defesa do complexo. Belas torres ainda estão de pé e podem ser galgadas por escadas internas em caracol.
Cada uma das treze torres tem um nome que relembra um acontecimento
histórico, ou homenageia algum herói ou nobre.
Assim as torre lá no terceiro recinto de que falei acima se chamam: Gobelins
e Melusine. Prosseguindo pelo lado esquerdo na direção das casas em ruinas,
estão as Torres Surienne e Raoul. Todas lindas.
Passear sobre as muralhas é um muito agradável, desde que os joelhos
aguentem tantas e às vezes íngremes escadas. Chegando ao alto, aprecie a
paisagem, e a própria cidade de Fougères, tanto a alta como a baixa, visite a
Capela.Também há um percurso para crianças com a fada Melusa e o elfo Melusin (bisnetos da Fada Melusina, que dá nome a uma das torres).Eles vão contar para as crianças toda a história do Castelo.
Agora, fechem seus livros de contos de fadas e saia do Castelo. Se tiver
filhos, netos ou sobrinhos passe na lojinha contígua para levar espadas e toda
a indumentária de um cavaleiro medieval, como roupas, armaduras, elmos e
espadas. Faz o maior sucesso junto a turminha dos 5 aos 10 anos.
DE VOLTA À CIDADE ALTA
Se não se satisfez com tudo o que
viu, pegue o trenzinho na Pça Raoul e faça um passeio de 40 minutos pelos
pontos turísticos da cidade. Eles levam você pela cidade alta e depois descem
novamente para a Vila Medieval. É só uma diversão a mais e por ser guiada pode
trazer outras histórias da cidade .
Mas se você estiver a pé, não se
apavore. È tudo perto. Siga contornando o Rio, entre nos Jardins Públicos e passe
por caminhos deliciosos, jardins floridos e arborizados, veja as lindas casas
no contraforte da cidade alta. Não esqueça de cruzar pela ponte interna da bela escultura de vidro,
uma peça contemporânea que é denominada “Obra
à Vida”. Uma homenagem à vida.
Se tiver tempo faça o circuito
literário. São pensamentos de literatos que amaram Fougères: Honoré de Balzac,
Chateaubriand, Victor Hugo, Jean Guéhenno ( acadêmico nascido em Fougères).
Estão espalhados pelas ruas, ruelas, praças e jardins da cidade.
Perdidos na cidade quem sabe vocês
ainda encontrem o prédio que expõem um
trompe l’Oeil gigante, na rótula da Rue Gaston Cordier.
Finalmente, ainda há o belo Convent
des Urbanistes Rue de la Caserne, 25, um antigo convento de freiras
Clarissas-Urbanistas, que hoje abriga um conservatório musical e uma escola de
artes plásticas. É belíssimo o prédio em pedra, janelas vermelhas. Regularmente
acolhe exposições de arte.
Um lugar tão pequeno, mas com toda
esta riqueza histórica. Vamos para SAINT MICHEL? Então me sigam na próxima
postagem. Au revoir!
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