quarta-feira, 26 de agosto de 2015

SAINT EMILION - VINHOS NA REGIÃO DE BORDEAUX





Saint Emilion

De acordo com a divisão administrativa e territorial francesa, o país se segmenta em Regiões. No caso,  a Aquitânia pela sua localização geográfica, é chamada de Região Sudoeste. É banhada pelo Oceano Atlântico e faz divisa com a Espanha, nos Pirineus. A sua Capital é Bordeaux e possui 5 subregiões, denominados de Departamentos: O Gironde, o Dordogne, o Landes, o Pirineus Atlântico  e o Lot et Garonne. 
Dois rios a cortam , o Garonne e o Dordogne, que em um dado momento se unem e formam o Gironde. Uma língua de terra entre os dois primeiros rios, ficou sendo chamada de Entre Deux Mères.
Os chamados lados esquerdo e direito foram definidos pelo  sentido do fluxo das águas do rio para o mar.
Bordeaux fica na margem esquerda. Do seu lado norte, entre o mar e o Rio Garonne,encontra-se  a mais nobre das regiões, a do MEDOC, que inclui as comunas (municípios)  de St Estephe, Pauillac, ST Julien e Margaux. Ali a uva cultivada é predominantemente a Cabernet Sauvignon, da qual se extrai os melhores tintos do planeta. Já do lado direito há duas faixas de terra muito especiais,Saint Emilion e Pomerol, onde cada pedaço de chão vale ouro (dizem que o hectare está estimado em 32 milhões de dólares). Embora não tenham sido indicados seus vinhos na lista de classificação de 1855, isto não quer dizer que não tenham vinhos de grande categoria. Aqui podemos citar os dois Premiers Grand Crus A:  o Cheval Blanc e o Ausonne. Mas exitem ainda 13 Premiers Grands Crus Classés B, 46 Grands Crus e muitos outros Crus. Portanto, apesar de ser um pouco menosprezado em relação aos vinhos do Medoc, esta é uma área que também produz excelentes vinhos....  As uvas que melhor se adaptaram na localidade foram a Merlot e a Cabernet Franc. Já na vizinha Pomerol é produzindo um dos ícones da região bordalesa, o Chateau Petrus, aquele cuja seleção de qualidade está definida no preço (vinhos muito caros e para poucos). Por estas características citadas escolhemos as duas áreas para a visita. A pequena e encantadora St Emilion e o mítico Medoc. Com ou sem vinho uma visita a St Emilion é imperdível. Pomerol fica para outra oportunidade.   
Hoje vou falar apenas deste cantinho onde o deus Baco fez morada. O Medoc terá um capítulo especial, na próxima postagem. 




Num romântico trenzinho interregional, saindo da Gare Saint Jean, cruzamos muitas plantações de uva até chegarmos, após 40 minutos, ao nosso destino. 



Trata-se de uma  vila, cercada de muralhas e cheia de ruelas estreitas, algumas íngremes, outras mais íngremes,  que precisaram de escadarias para serem acessadas. Velhos castelos e igrejas, boutiques de vinho situadas em antigos conventos e história, muita história para contar. 
Ao chegarmos a pequena estação estava fechada, silenciosa. Até o banheiro químico em anexo não estava funcionando. (Compre a passagem de volta em Bordeaux, para evitar problemas).Caminhamos uma meia hora, em companhia de um casal de brasileiros, passando por campos de uva, onde os  parreirais se esparramavam.   






Papo de viajante rolando, até surgirem os primeiros sinais do povoado. Como era hora do almoço paramos no primeiro restaurante que nos pareceu muito simpático. Claro, um casarão de pedras, ombrelones no jardim e flores, muitas flores ornando tudo o Le Medieval. (Place de Porte Bouqueyere).





Apesar do frio e de alguma ameaça de chuva (que não veio) nos aconchegamos em uma das mesas do solário. O serviço foi bom, comida trivial e gostosa da cozinha germânica (porco grelhado com linguicinhas, purê de batata e escarola). O vinho..ah o vinho. Toninho escolheu um Gran Cru do local e ficou muito satisfeito e eu pedi um CREMAN (que é como eles chamam os espumantes que não são da região de Champagne - que leva a exclusividade na designação). De sobremesa pedimos um  crème caramel, que é nada mais, nada menos o nosso velho e bom pudim de leite. Só que a apresentação o deixa com um aspecto bem mais atrativo: rodelas de kiwi e laranja, adornado com chantilly. Depois do "expresso" saímos pelo corredor natural que nos levava ao interior do povoado. Logo encontramos o primeiro monumento: o CLOS DU ROY (Rue de la Grande Fontaine). 


Mandado construir no século XII por não se sabe quem,  é um dos marcos da cidade. Subindo por entre jardins e muretas de pedra, você chega à entrada e ali compra os ingressos. Depois é só explorar seus corredores labirínticos, galgar patamares e terraços e ir subindo.


 Haja pernas! Mas tudo é compensado pelos mistérios do antigo monumento. No meio das pedras, pequenas urzes floridas quebravam a sobriedade da beleza da torre de pedra.


O gran finale é o último patamar, onde se descortina uma vista da região: a área rural e seus castelos e o núcleo urbano com o casario, ladeiras, torres, igrejas e conventos. 


Depois de desfrutarmos desta empolgante visão, descemos rumo ao centro, pegamos um guia da cidade no escritório de turismo que fica bem na praça central, para nos orientarmos melhor. O largo da igreja é cheio de restaurantes e lojas. Tudo em estreita ligação com os produtos regionais: comida e vinho. Mas sobre a igreja há o que falar. A base é uma gruta, dita monolítica (Igreja Monolítica). Ali o monge  que chegou e que se chamava Emílio,






cavou na pedra sua morada. Depois foi surgindo uma igreja e hoje o Emílio é santo e muito cultuado pelos moradores e turistas. Prepare-se que a fila, que  é grande e demorada. As pilastras colocadas para suportar o peso da igreja e dos anos, dizem, teriam  descaracterizado o local, mas mesmo assim é muito bonito. Saindo da  Place de L`Eglise Monolithe por entre ruelas enfeitadas de flores e tudo muito cuidado, pinturas recentes nas janelas, fomos encarar a ladeira para a parte superior da cidade. 
Ali todo cuidado é pouco por causa das pedras lisas, desgastadas pelo tempo, além do terreno íngreme. A Prefeitura colocou um corrimão porque senão seriam tombos encima de tombos. É  engraçado apreciar os idosos...






Já na parte superior, plana,  entrando à esquerda logo se alcança a Praça da Igreja Monolítica, com seus bares nas calçadas , lojas de artigos para cozinha, bar e adega, além de outros pequenos souvenirs. Ali por exemplo comprei um relógio para o bar, que é lindo mas não funcionou  e já foi para o relojoeiro, então fiquem atentos. Vagando pela praça encontramos um brasileiro, jovem, muito simpático que trabalha há anos junto às vinícolas. Alegre e comunicativo,  não é destes que morrem de medo de encontrar e falar com brasileiros. Já tínhamos nos cruzado num dos chateaux, no Medoc. Depois do cordial papo retornamos pela mesma rua ao seu final entramos pela Rue de Guadet, onde nos deparamos com um hotel ralais-et-chateaux, muito gracioso. Passamos pela Prefeitura e depois fomos até o famoso CLOITRE DES CORDELIERS (Rue de la Porte Brunet), casa de vinhos situada num antigo claustro em ruínas. 


Ali compramos vinhos e também aventais com o nome da vinícola, o que eu gosto muito de colecionar. Seguindo pela mesma rua encontra-se uma das antigas portas da cidade chamada Porte Brunet. Aqui estaríamos fechando o circuito de visitas pela cidade, pois andando mais um pouco já chegaríamos à Place Bouqueyère. Lembram-se? A do restaurante Le Medieval.Mas nós retornamos para o interior da vila para conhecer mais. 

Além das boutiques de vinhos as visitas podem ser feitas diretamente nos Chateaux, com degustação. Tudo é relativamente perto e há facilidades pelo tamanho do lugar e pela quantidade de vinícolas existentes (900 para 2700 habitantes). Ou seja uma para cada 3 pessoas. 
As casas de frios também são atrativas. Impossível sair sem um dos famosos embutidos, presuntos ou que tais... Além de queijos, claro!

com caviar e fois gras

Para visitar os chateaux, vinícolas e caves aconselho você a ir ao Ofício de Turismo local www.saint-emilion-tourisme.com 
Eles tem as listas, os horários e explicam as vantagens de uma ou outra escolha, tais como proximidade, acolhimento, degustação etc.. Vou dar alguns nomes de Chateaux que tem visita livre e que produzem vinhos classificados como Premier Grand Cru Classés B:
Chateux Beau-Séjour, Chateaux Canon e Chateaux Figeac. Existem inúmeros outros que produzem Grand Crus e que estão na lista. Veja de sua conveniência.  
O Chateau Bon-Sejour e o Figeac tem um encanto a mais: vias subterrâneas feitas na idade média, cujo conhecimento é um plus nessa incrível viagem no tempo.


Tudo começou com a retirada das pedras calcáreas do subsolo para fazer igrejas e outros prédios religiosos. Muito mais tarde passou-se a escavar para retirar o material e construir casas. Assim foram surgindo galerias, que possuem vários andares. Hoje elas são usadas como caves e também roteiro para visitas. Assim como nas Catacumbas de Paris, há iminente risco de desabamento e muitos trechos estão tendo cuidados especiais. As máquinas agrícolas, caminhões e outros veículos pesados põem em risco este atrativo roteiro e incrível patrimônio histórico. Então amigos, não deixem de visitar o SOUS-SOL DE SAINT EMILION, um passeio que não é muito divulgado, mas que é imperdível. 


Com a lembrança carregada de bons momentos, voltamos para Bordeaux. Fazia um frio incrível na pequena estação que nunca abre. Tivemos que esperar o comboio do lado de fora, nuns toscos banquinhos de madeira..mas tudo vale a pena Se a alma não é pequena
Nos vemos no MEDOC. A BIENTÔT, J'ESPÈRE




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