domingo, 9 de janeiro de 2011

Entre o inferno e o paraíso

Muita coisa aconteceu neste Natal. Uma grande nevasca, até certo ponto inesperada chegou junto com os filhos e netos  e impediu-os de aterrisar em Londres.

Heathrow, tão inglês, sempre working, enquanto Gatwick ou os demais fecham pelo mau tempo, desta vez sucumbiu. Foram três noites de angustia e apreensão principalmente pelas  crianças entre idas e vindas ao aeroporto Charles De Gaulle em Paris, para onde o vôo foi desviado. Como tínhamos planejado as viagens, dia a dia, assim que a família chegasse iríamos direto para  Glasgow, na Escócia, onde começariam nossas férias.  Nossas passagens de trem estavam reservadas, os hotéis também, tudo  com prazo , mas o atraso  de três dias arruinou a primeira fase da viagem.
Chegamos a ir a Glasgow, mas foi uma rápida passagem  correndo atrás do itinerário. Foi uma passagem relâmpago  sob  neve  no dia 21 de dezembro. A tarde estava escura, não tivemos tempo sequer  de almoçar. O trem saiu da Estação de  Euston/Londres  aí pelas 8 da manhã. Meus familiares conseguiram aterrisar em Heathrow  a meia noite da noite anterior. Saímos do aeroporto pelo meio da madrugada. Havíamos acertado dois taxis, que compareceram na hora marcada. O acerto foi feito com uma empresa de taxi  aqui do bairro mesmo, para evitar os extorsivos preços do aeroporto durante a madrugada. No entanto o taxi cobrou mais do que o acertado. E os dois elementos que vieram não estavam para brincadeiras nem para discussões. Pagamos sob protesto e pronto. Estou anotando no meu caderninho para reclamar com Sua Majestade na próxima entrevista que tiver com Ela. Explico: aqui não tem juizado de pequenas causas, PROCON ou outras ajudas ao consumidor como em  alguns países adiantados que conhecemos! (Aos meus leitores do Japão, Rússia e EEUU adiciono que  esta última frase contém ironia própria dos brasileiros – falar com Sua Majestade quer dizer que não temos com quem nos socorrer, uma vez que falar com Ela é uma coisa impossível para o comum dos mortais).
Well, Seguimos direto para o centro da cidade próximo a Estação de trem, booking feito pela internet. O hotel era uma daquelas casas inglesas típicas. Simpático,  mas o preço cobrado não correspondia ao conforto que se esperava . Colchão ruinzinho, banheiro apertado.” I woudn’t recomend”. Deixa pra lá, umas horinhas só...Bem por isto, nem o café  da manhã pudemos tomar. Uma rápida xícara e começa a correria.
 Tínhamos reserva na Virgin Trains, não havia porque se preocupar, mas alguém já me falara da desorganização dos trens que servem a Escócia. Não acreditamos. Mas estava começando um calvário. Quando entramos no trem a turba já tinha tomado conta. As malas nos corredores impediam a passagem para carrinhos , crianças e malas. Entramos no vagão errado e eu mandei um escocês de dois metros de altura, se levantar porque o lugar era meu. O homem ficou meio desconcertado, e já ia “obedecer” quando descobri o erro. Que vergonha! Mas eu já estava ficando muuuiiiito irritada. Fomos pulando por cima de pessoas (aos montes, como gado) até chegarmos aos assentos corretos . As pessoas que os ocupavam se recusavam a deixar os lugares dizendo que as reservas estavam canceladas..rsss... Foi preciso a intervenção do Chefe de trem  ( não sei se é assim que se chama o funcionário que atende nos trens), para as pessoas cederem os lugares.
Retomando....Depois de muitas horas de viagem chegamos  a Glasgow, cansados , com sono e fome. Quando nos sentamos no restaurante da estação para almoçar  descobrimos que o trem para INVERNESS, partiria de outra estação em cerca de 20 minutos. Não  havia um taxi sequer no ponto. Acho que nem eles ousariam sair a rua com aquele frio . Olhamos o mapa e descobrimos que a estação ficava a umas tres longas quadras  dali. Enrolamos o que deu das comidas e sucos  para as crianças e  sem abandonar  os  trolleys ( carrinho para transportar malas) pertencentes àquela estação cruzamos o centro da cidade numa correria alucinada. A neve caindo impiedosa.  Chegamos a 10 minutos da partida do trem. Ainda tínhamos que validar as passagens ( compradas a partir do Brasil, para 4 viagens no período de 2 meses). Havia fila, com certeza perderíamos também este trem. Já havíamos perdido os dias de Glasgow. Nada estava dando certo.
Mas a fila andou rápido e o  trem atrasou. Havia qualquer defeito a ser reparado, pois os mecânicos corriam de um lado para o outro. Depois vieram pedir desculpa e  suprimiram um carro. Ou seja, novo aperto, nova falta de lugares.
O trem lotou, não achamos lugares juntos. Fui para a primeira classe com o Julio ( meu neto mais velho – de 4 anos).A diferença entre a primeira classe e a segunda era uma mesa entre os assentos, o que tornava os espaços super apertados e muito mais desconfortáveis do que a segunda.  Sentamos numa dessas mesas. Na minha frente o Julio  e a sua esquerda uma moça que não tirou nunca os olhos do livro que lia. Ao meu lado   homens autralianos conversavam aos altos brados . O inglês deles era ininteligível. Não sei o que falavam, mas não me pareceram amigáveis. Fiquei desconfortável com aqueles pinguços barulhentos em volta. Rodrigo, meu filho e pai do Julio,  sentou por perto, num outro banco.
 Assim saiu o trenzinho com dois vagões rumo ao pólo norte, em meio a uma solidão branca e gelada. Lindo nao e'?  Confesso que estava um pouco decepcionada com a situacao, eu, que sempre  fora uma apaixonada por trens e que sempre achei muito romântico viajar de trem. Tentava me consolar pensando que tudo devia estar assim caótico por causa da proximidade das festas natalinas. Agora, pensando  racionalmente concluo que  nada justifica a incompetência administrativa da ferrovia britânica (VIRGIN TRAINS) e pior ainda, o desrespeito com que tratam o usuário dos seus serviços. Overbooking no local é regra.Fique de olho caro leitor, quando quiser viajar de trem para a Escocia.
Quase uma hora depois chega o Toninho chamando para sentarmos todos juntos. Assentos cara a cara, espaço para as crianças. Algumas pessoas que ocupavam os lugares haviam descido numa das paradas. Alívio grande. Achei meu computador e o Júlio que já estava ficando irritado, ficou absolutamente entretido com os games e jogou até o trem finalmente chegar na distante Inverness.

Estação pequena, já havia anoitecido. Tudo escuro. Tiramos fotos: BENVINDO A INVERNESS.


O frio confirmava o nome do lugar, para nós brasileiros. Treze graus abaixo de zero, era de gelar os ossos. As crianças foram cobertas com cobertores e o carrinho fechado com plástico a prova de chuva e neve. Rodas altas para rodar pela neve.


Aguardamos um pouco até aparecer um taxi, dois..O hotel era muito perto. Passamos por um restaurante animado, a fome apertava. O hotel foi uma agradável surpresa.



 Muito bem localizado a beira do Rio Inverness, diante do Castelo que  o margeia.( Cidade que se preza na Grã Bretanha tem seu castelo).

Hotel aconchegante, bem decorado, camas king size, macias e cheirosas, aquecimento reconfortante. Lareiras acesas, apenas para dar o efeito romântico, já que o aquecimento é feito como em toda a Grã Bretanha, através de uma central de aquecimento com o calor sendo difundido pelos radiadores, instalados em todos os aposentos.
Decidimos fazer uma rápida higiene e sair para comer, naquele alegre restaurante que havíamos divisado na vinda, e ficava a poucos metros do hotel. Apesar do frio polar, a lua brilhava enorme e prateada no céu do local mais ao norte do mundo em que  haviamos pisado ,até então. Era o fim do nosso sofrimento de tantos dias. O jantar foi fantástico e não só por causa da fome.
Neste restaurante amigável, como todos em Inverness, conhecemos um senhor francês, chefe de cozinha numa localidade próxima a Aberdeen. Conversamos muito, e a gente o viu chamar o chefe para  elogiar a cozinha.
Passeamos um pouco, mas com temperatura tão baixa e um dia tão cheio de emoções não era possível continuar por muito tempo longe do aconchego e do calor do hotel.
Acordamos cedo, tomamos o café, encontramos o chefe de cozinha francês que nos cumprimentou efusivamente ( estava hospedado por coincidência no mesmo hotel). Meu filho e família quiseram descansar e ficaram dormindo. Toninho e eu saímos sob o inclemente rsss  sol  do norte do mundo ( no inverno). Visitamos o castelo, que fica no centro da cidade e diante do nosso hotel , na margem esquerda do Rio Inverness. Embora houvesse neve por todos os lados, as calçadas estava limpas, podia-se andar em segurança. O sol deixava tudo mais bonito. As casas são muito bonitas. Fora do centro histórico pudemos apreciar as moradias , os conjuntos habitacionais dos cidadãos de Inverness e o que vimos nos agradou bastante.
Voltamos ao hotel, chamamos um taxi Van e fomos com toda a família para o lago Ness. O taxista nos deixou lá e voltou para a cidade aguardando a chamada para o retorno. O lago Ness é muito azul e fica em total harmonia com o céu  e a neve que cobre suas margens.


De repente, vimos  Nessie , que  mergulhava e aparecia. Nos sonhos do Julio ela  piscava os languidos olhos de longos cilios, e por fim cansada deitava sua cabeça pequena em seu  colo macio e adormecia sorrindo, enquanto ele fazia cafuné e contava histórias do Brasil.


Eles compraram muitas Nessies no shopping da dinossaura e Julio passou a dormir agarrado a ela, todas as noites após esse memorável encontro.
A tardinha rumamos para Edinbourgh, mas esta é uma outra estória.
   SOBRE INVERNESS: INVERNESS e' uma pequena cidade ao norte da Escocia e proxima ao Circulo Polar Artico. O povo e' gentil como as pessoas do interior costumam ser. A cidade oferece todos os confortos de outras cidades maiores. Bons hoteis e lojas, alem de restaurantes. Tem uma rua principal para pedestres, onde se localiza quase tudo que a cidade tem para ver e servicos a oferecer. Tudo muito facil de localizar.
O lago Ness fica nas cercanias, mas o centro de apoio ao Turista ( barcos e compras), fica a cerca de 15 km do centro. Existe empresa de turismo ( pode-se fazer o booking junto ao Castelo, na rua principal) que faz o passeio, leva de barco pelo lago e depois para visitar uma ilha que possui um castelo em ruinas. Passeio agradavel.
O taxi cobra pelo taximetro e custa aproximandamente 45 libras , uns R$120,00 - ida e volta.
I'd recomend.

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