sábado, 12 de fevereiro de 2011

UNEXPECTED BACK HOME OU O ENIGMA DAS PIRÂMIDES

A nossa última semana em Londres foi bem planejada, retornamos a vários pontos tradicionais da cidade.
Acima: troca da guarda, no Palácio de Buckingham
Começamos a nos despedir dos nossos restaurantes usuais, mas descobrimos que o Safadi fechara para reformas,  e a sorveteria  Hagen Daz,  em  Leicester Square parece fechada para todo o sempre ( What a pity!).
Na semana anterior  havíamos trilhado a Lowndes St para tirar o visto na Embaixada do Egito e estávamos pensando em deixar o visto da Jordânia para a entrada no país, uma vez que a  companhia de turismo informou que não há problemas em pegar o visto na entrada.
O mais importante seria o Egito, não poderíamos vacilar.
Foram muitas as passadas na HARRODS, que fica próxima a Embaixada. Vou descrever a loja para os interessados em outra postagem de dicas.
Desde quarta feira eu comecei a me preparar para as férias: manicure, luzes etc... Quinta feira, dia frio demais, acordamos cedo como sempre,  rumo a escola. Após as aulas , como caiam uns floquinhos de neve, resolvemos ir ao British Museum. Almoçamos num pequeno bistrô vizinho ao Museu  e fomos rever  algumas peças  relacionadas ao Egito, tiradas de tumbas e das pirâmides, além da pedra de Roseta, que encanta a todos que a contemplam e conhecem o seu valor histórico. Voltamos para casa, como sempre, a noite.
 Nas semanas anteriores viramos na BBC notícias de uma revolta popular na Tunísia. Isto nos soou distante. Uma mera notícia de acontecimentos pelo mundo. Mas na semana seguinte rumores davam conta de que alguma coisa similar estaria ocorrendo no Egito, nosso próximo destino. Arrumando as malas, parei para seguir a reportagem que já mostrava  imagens de manifestações populares não muito pacíficas. Comentei qualquer coisa com o Toninho e continuei  com a árdua tarefa de fazer caber meus "belongings" nas quatro malas que me sobravam (mandara uma para o Brasil pelos  filhos abarrotada com os casacos de lã, mas ainda sobrava muita coisa ..roupa de frio  faz mais volume). Fomos dormir.
Dia seguinte, último dia de aula e também do mês.
 A cada final de mês a escola faz uma virada, muda professores, livros e as turmas  também. Poucos colegas continuam juntos. Eu só tive uma colega que me acompanhou em todas as turmas por que passei: a Boram, da Coréia, uma menina sensacional. Somos ótimas amigas, apesar da diferença de idade. Ela deverá cursar universidade em Londres a partir do próximo ano. No dia anterior fui presenteada por ela com doces e salgadinhos típicos da Coréia. A comunidade coreana da escola, em geral era muito afável, com o seu costume, sua  timidez, sua refinada educação, sua fala baixa, mais do  que a dos londrinos, ou seja, quase imperceptível.
O dia então foi de despedidas. No intervalo eu e a colega Ella , da Rússia, saímos para comprar um buquê de flores para a Felicity, nossa teacher. Uma inglesinha pra lá de extrovertida, que fala mandarim e grego (ufa!) mas muito exigente com freqüência, lição de casa e atenção nas aulas (strict, como dizem os ingleses).
Recebi meu diploma . Se continuasse  estaria mudando de nível, para o Upper. Fiz boa prova. A Cultura Inglesa que me aguarde...
Depois do adeus à escola e a colegas, fomos almoçar  e a seguir para o hairdresser  que estava marcado há uma semana.
Quando voltamos a noite para casa Toninho estava preocupado. Escutei ele resmungar qualquer coisa semelhante  a “ é, a  situação no Egito está  engrossando, acho que não poderemos viajar”. Isto soou para mim como uma brincadeira. Imagina! Estamos com tudo pronto, passagens compradas, hotéis, tour e navio reservados! Nem pensar em semelhante hipótese!
Comentamos com a Mary, nossa hostess e ela demonstrou tbém preocupação, pois havia acompanhado as notícias pela BBC. Subimos para o quarto ligamos a TV. A  BBC, que embora repetitiva é confiável,  estava transmitindo direto do Egito. As notícias eram alarmantes e havia buxixos de que a família do Mubarak chegara a Londres (todo mundo vem pra Londres), com cem malas e por certo camelos e escravos..Júlio meu neto riu muito quando contei esta passagem, imaginando cem escravos levando as cem malas na cabeça, que, segundo ele, estariam abarrotadas  de cachecóis. Para uma criança de 4 anos ir pra Londres significa levar muitos cachecóis para proteger daquele frio inclemente.  Ainda estão frescas em sua memória as férias de Natal.
Já era tarde, decidimos deixar tudo preparado  e rumar para Heathrow logo cedo (nossas passagens estavam marcadas para as 14.00 horas). Estávamos programados para viajar durante 20 dias e depois retornar  a Londres após as férias. Nossas malas de roupas de frio ficariam sob a guarda da Mary.
Eu  ainda tinha esperanças de viajar, mas desde cedíssimo a BBC já falava da conflagração e da violência nas ruas. A operadora de turismo, de quem compráramos o pacote, nos orientava a irmos para lá pois não se tratava de nada sério. Estava desinformada.. na melhor das hipóteses.   O que víamos na televisão não deixava margem a dúvidas, resolvemos ir até os balcões da  Egypt Air em Heathrow para o cancelamento das reservas. Foi o que fizemos. Como estava encerrando nossa estadia, também era hora de sair da casa . Lá mesmo no aeroporto fizemos a reserva para o Hilton, que  fica no terminal 4, com o qual  o hotel tem acesso direto.
Acima: vista da janela do Hilton para o próprio hotel, tudo em armações metálicas e vidro,  permitindo ver a paisagem fora.

Facilitaria nossa vida, sem termos que tomar táxi com tanta bagagem e poderíamos monitorar de perto as negociações para nossa antecipação da vinda para o Brasil.  Reservado o hotel a próxima etapa era a conversa com a TAM.  A loja estava fechada e só abriria a uma da tarde. Fomos almoçar no Rouge, um restaurante nosso velho conhecido. É por sinal o melhor dos existentes no aeroporto, quem precisar comer no aeroporto é uma boa opção. Trata-se de uma cadeia de restaurantes  de comida francesa. Há boas saladas e um prato eu me apaixonei e sempre repetia : mushrooms (cogumelos) passados na manteiga, com ervas finas. Muito bom, é start, vem numa porção razoável para entrada. Depois do almoço seguimos para a TAM e apesar da insistência do Toninho não havia passagem para aquele mesmo dia. Eu também me recusava a sair assim, de repente, como se estivesse fugindo. Fugir, só da guerra. Eu não estava preparada psicologicamente para deixar Londres e interromper a nossa viagem ainda tão cheia de planos ..
A TAM conseguiu  lugares para nós no domingo...
Das mordomias que o hotel oferece só conseguimos  usufruir do confortável apartamento, para descansar, bem entendido! Fizemos o check in , no hotel, no meio da tarde.
Para buscar nossas malas, chamamos mais uma vez aquela empresinha de taxi do bairro que pede um preço e depois cobra outro..paciência. O imigrante que  dirigia o carro  era o mesmo de outros carnavais. Insistimos com ele sobre o preço, na saída Mary ainda gritou "tratamos por  GBP 15,  entendeu?! " Mas não adiantou, o danado quis cobrar 25 e por fim acabou deixando ( rsss) por GBP 20. O velho e conhecido truque de pedir mais para negociar e chegar ao preço pretendido.
Bagagens no quarto, tomamos o metrô para Picadilly. Subimos a Regent Street até a loja da National Geographic. Os meninos fazem aniversário este mês e adoraram as camisetas da loja, então fui lá comprar.
Depois ainda fomos nos despedir do Café Concerto (Regent Street), cuja entrada está sempre obstruída por orientais com suas máquinas fotográficas tirando fotos das vitrines e seus lindos bolos decorados. Já havia passado a hora do chá, que pena,  acabei tomando uma saborosa sopa, com um vinhozinho, pãezinhos e por fim doces, que a gente escolhe na vitrine.
Domingo fizemos o check out  no hotel  por volta das 12 horas e tratamos de ir pedir o VAT REFUND no aerorporto (explico tudo nas próximas dicas) .
Acima: passarela que liga o Hotel Hilton ao terminal 4 de Heathrow

Preenchi todos aqueles formulários, entrei na fila , que aquela hora não estava muito cheia.  O policiamento era ostensivo no aeroporto, policiais de metralhadora gritavam para que ninguém deixasse bagagem sozinha que eles destruiriam. O alto falante estava incansável tbém nas recomendações. Nunca tinha visto um aparato assim  em Londres, mas seguramente era por causa da questão do Egito e pelo fato da família do Mubarak ter ido para lá. Poderia sobrar pra Inglaterra, não convinha arriscar, principalmente depois dos atentados ao aeroporto de Moscou, muito repercutido pela BBC, prestigiando a colônia russa em Londres que parece maior que a brasileira.
Começamos  os procedimentos para o embarque passando pela polícia de fronteiras e os alarmes soaram para o Toninho.. Foi um deus-nos-acuda, revistaram ele dos pés à cabeça, teve que tirar os sapatos, enfim era apenas o hearing aid que ocasionou toda aquela apreensão. Cuidado disabled  and less able, em Londres estes problemas não são muito considerados e nem podem servir de pretexto para nada.
Depois disto ficamos ainda bastante tempo nas ilhas  de embarque, cercados de lojas por todos os lados. Lá dentro tem tbém uma mini-HARRODS, e dá para comprar os últimos souvenires.
Viajei de business class e a viagem foi bastante confortável. Há espaço para deitar o banco, a comida é diferenciada (tanto que tinha um enorme cabelo no meu fois gras..e eu odeio cabelo na comida argh). De todo modo o tratamento é  mais personalizado. Uma champagne logo ao entrar no avião que é para  fazer esquecer as dores do retorno.
Chegamos, não  avisamos ninguém. Viemos direto para casa. Os filhos mandavam torpedos e diziam para ligarmos o skype que eles precisavam falar conosco. A gente retornava os torpedos no nosso celular londrino que aqui é conveniado com a TIM e dizíamos que estávamos sem internet porque nos mudáramos para o hotel. A noite  os surpreendemos, com uma visita inesperada. Muita alegria no reencontro.
Não sei se este é o fim da estória, mas  esta viagem  foi abruptamente  interrompida. Ainda estou perplexa.  A vida não pára, mas estou de quarentena. Ainda não me acostumei com o calor, faz tempo que não o sentimos já que fomos para Londres ainda durante nosso inverno e no começo do outono deles. Também  não falei com os amigos e nem noticiei para os amigos londrinos que partimos.
Aqui tudo do mesmo jeito. Fui ao supermercado e ouvi bate bocas desnecessários, fiquei vermelha..achei que havia algo de errado, mas não havia. É assim mesmo. Não que eu pretenda importar cultura de outros povos, mas um pouco de polidez faz muito bem pra todo mundo. Lá não é comum gritar no trânsito, nem xingar na rua. A sensação de segurança é grande, você pode andar de noite nas ruas (quase) sem medo. Exceções lá só  existem para confirmar a regra. Portanto, quem não gostaria de ficar muito tempo num lugar destes? Todo mundo bem vestido, cheios de bons programas para fazer (muitos de graça),  dezenas de parques  na cidade, rios e ruas bastante limpos.  
Tá certo que a Grã Bretanha é um país velho, cheio de tradições, castelos e bruxas, rainhas e ladies, mas bem que eu gostaria de poder cantar ao mundo que meu país é melhor. Eu até tentei dizer que não eramos puro samba e futebol, falei das nossas riquezas, procurei explicar o grande teatro que é o carnaval e as coreografias, disse dos costumes como o chimarrão (o nosso tradicional tea...etc) e as outras danças, como as gaúchas, mas acho que ninguém acreditou. A imagem que se tem por lá é de uma gente dançando nas ruas, sem roupa. Se fôssemos polidos e limpos (falo de não descartar lixo pelas ruas),  seríamos um país perfeito, pois temos uma linda natureza, montanhas e praias, temos o Rio de Janeiro e Salvador, tantas outras, só que tudo minado pela  violência e pela impunidade (que é um ponto cultural forte nosso), muita insegurança, vida muito cara para a população, cidades poluídas e sujas. E líderes dando mau exemplo à população, mostrando que esperteza e levar vantagem é que é normal.
Ah! Esqueci de falar dos corruptos: escândalo por lá costuma dar cana! Um político, rico e poderoso fez um esqueminha de falsificar notas de compra para reembolso; em questão de um mês estava com a condenação decretada e cumprindo pena em prisão fechada. Quando comentávamos o caso com algum britânico eles ficavam desconfortáveis e envergonhados. Isto se chama dignidade, vergonha na cara.
Gostaria de um Brasil assim,  sem certas coisas...
FOI UMA EXPERIÊNCIA MARAVILHOSA...PASSOU...PÉS NO CHÃO... VAMOS TOCAR NOSSA VIDA POR AQUI..PORQUE SOMOS PARTE DISTO TUDO. GOOD BYE LONDON..... SEE YOU....
Quem sabe por onde e quando retomarei esta estória inacabada....

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